sexta-feira, 11 de maio de 2018

A GARGANTA DA SERPENTE, de Agostina Akemi Sasaoka









Não há luz.

O tremor do útero

anuncia a sílaba.

Diga tua profecia

enquanto refaço o evangelho.

A boca sorri tortuosa

maldizendo a dança dos temores.

Pronuncie!

Não ouse sussurrar o caos.

O terço se enrosca

em minha língua

enquanto a primeira estrela se arrebenta.

Hospedo-me

nas gavetas do inferno,

onde os verbos maceram.

Não olhe:

vou nascer.

A garganta arreganhada

permite o sibilar do cio

Esfrego-me em teus pudores

enquanto conjugo um bocado da lua.

As escamas pulsam displicentes

sob a fronteira úmida da dor.

E o verde rasteja

- infindável -

trazendo a serpente.


(Ilustração: escultura de Franz Xaver Bergman - 1861–1936; Viena)




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