sábado, 5 de maio de 2018

FUNERAL BLUES / BLUES FÚNEBRES, de W. H. Auden







Stop all the clocks, cut off the telefone,

Prevent the dog from barking with a juicy bone,

Silence the pianos and with muffled drum

Bring out the coffin, let the mourners come.



Let aeroplanes circle moaning overhead

Scribbling on the sky the message He is Dead,

Put crêpe bows round the white necks of the public doves,

Let the traffic policemen wear black cotton gloves.



He was my North, my South, my East and West,

My working week and my Sunday rest,

My noon, my midnight, my talk, my song;

I thought that love would last for ever: I was wrong.



The stars are not wanted now: put out every one;

Pack up the moon and dismantle the sun;

Pour away the ocean and sweep up the wood;

For nothing now can ever come to any good.





Tradução de Nelson Ascher:




"Que parem os relógios, cale o telefone,

jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,

que emudeça o piano e que o tambor sancione

a vinda do caixão com seu cortejo atrás.



Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,

escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.

Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço —

e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.



Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto

viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,

meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;

quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.



É hora de apagar estrelas — são molestas —

guardar a lua, desmontar o sol brilhante,

de despejar o mar, jogar fora as florestas,

pois nada mais há de dar certo doravante." 





Tradução de Nelson Ascher (outra versão):




"Detenham-se os relógios, cale o telefone,

jogue-se um osso para o cão não ladrar mais,

façam silêncio os pianos e o tambor sancione

o féretro que sai com seu cortejo atrás.



Aviões acima, circulando em alvoroço,

escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.

Pombas de luto ostentem crepe no pescoço

e os guardas ponham luvas negras como breu.



Ele era norte, sul, leste, oeste meus e tanto

meus dias úteis quanto o meu fim-de-semana,

meu meio-dia, meia-noite, fala e canto.

Julguei o amor eterno: quem o faz se engana.



Apaguem as estrelas: já nenhuma presta.

Guardem a lua. Arriado, o sol não se levante.

Removam cada oceano e varram a floresta.

Pois tudo mais acabará mal de hoje em diante."





Tradução de Vasco Graça Moura:



Parem já os relógios, corte-se o telefone,

dê-se um bom osso ao cão para que ele não rosne,

emudeçam pianos, com rufos abafados

transportem o caixão, venham enlutados.



Descrevam aviões em círculos no céu

a garatuja de um lamento: Ele Morreu.

no alvo colo das pombas ponham crepes de viúvas,

polícias-sinaleiros tinjam de preto as luvas.



Era-me Norte e Sul, Leste e Oeste, o emprego

dos dias da semana, Domingo de sossego,

meio-dia, meia-noite, era-me voz, canção;

julguei o amor pra sempre: mas não tinha razão.



Não quero agora estrelas: vão todos lá para fora;

enevoe-se a lua e vá-se o sol agora;

esvaziem-se os mares e varra-se a floresta.

Nada mais vale a pena agora do que resta.





Tradução de Rodrigo Suzuki Cintra:



Parem todos os relógios, calem o telefone,

Impeçam o latido do cão com um osso para a fome,

Silenciem os pianos e com tambores chamem

A vinda do caixão, deixem que os desconsolados clamem.



Que aviões circulem no alto, um voo torto,

Rabiscando no céu a mensagem: ele está morto.

Que se coloque nos brancos pescoços de pombas coleiras pretas,

E os guardas de trânsito usem luvas de algodão negras.



Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste,

Minha semana de trabalho, um domingo campestre,

Meu meio-dia, meia-noite, minha fala, minha canção;

Eu pensava que o amor duraria para sempre: eu não tinha razão.



Não me importam mais as estrelas; tirem-nas da minha frente,

Empacotem a lua, desmantelem o sol quente,

Despejem o oceano, tirem as florestas de perto:

Pois agora nada mais pode vir a dar certo.



Tradução de Maria de Lourdes Guimarães:



Parem todos os relógios, desliguem o telefone,

Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,

Silenciem os pianos e com os tambores em surdina

Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre.



Que os aviões voem sobre nós lamentando,

Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,

Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas da cidade,

Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão.



Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,

A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,

O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;

Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me.



Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;

Emalem a lua e desmantelem o sol;

Despejem o oceano e varram o bosque;

Pois agora tudo é inútil.




(Ilustração: foto do filme O Sétimo Selo, de Bergman)




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