terça-feira, 8 de maio de 2018

OS ROBNIKS, de Vladen Bakhnov


   






A reunião do Conselho Científico terminou tarde da noite e agora o velho catedrático caminhava vagarosamente pelos silenciosos corredores do Instituto. Em alguns laboratórios ainda havia luz. Através do vidro fosco movimentavam-se sombras de estudantes e robôs. 

Na verdade, toda a vida do velho professor se passou neste prédio. Estudou, lecionou e, em seguida, tornou-se diretor... Provavelmente um dia o Instituto levaria o seu nome, mas o professor tinha esperanças de que isto não aconteceria muito brevemente... 

Ele ia devagar, pensando na discussão que novamente surgiu no Conselho Científico. Esta discussão surgia constantemente e, pelo que se depreende, somente o tempo poderá dizer quem está com a razão e se o que acontecia na ocasião com os estudantes era uma tendência da moda ou algo muito mais sério. 

O professor desejava sinceramente que isto fosse um simples modismo. 

É difícil precisar quando e como tudo começou, há talvez uns cinco anos. No começo esta desconcertante inclinação dos estudantes de imitar em tudo os robôs, somente provocava risos e irritava. Os jovens, que se denominavam Robniks, começaram a falar de si próprios como se fossem máquinas cibernéticas: “Hoje estou programado para fazer isto ou aquilo”, “Este livro introduziu em mi mais ou menos tantas unidades de nova informação...” 

Depois eles aprenderam a imitar as maneiras e os movimentos dos robôs, acostumaram-se a olhar sem piscar, com uma expressão ausente e os seus rostos se tornaram tão inexpressivos e impessoais, como os achatados rostos dos robôs. 

É claro que qualquer nova moda sempre irrita alguém. O professor lembrava perfeitamente que há cincoenta anos, os jovens e ele, inclusive, começaram a deixar crescer a barba, imitando os beatniks. 

Antes disso estava na moda o penteado à la Tarzan. E agora convencionou-se eliminar à navalha todos os pelos do rosto e da cabeça, já que os robôs, como se sabe, não possuem cabelos. 

Mas não era isto o que preocupava o professor. 

Naquela ocasião considerava-se, no mínimo, antiquado divertir-se e ficar triste, rir e chorar; todo a exteriorização de quaisquer sentimentos era considerada grave falta de educação pelos verdadeiros robniks. 

- No nosso século – diziam eles – quando estamos em condições de modelar qualquer emoção e decompor, em laboratório, todos os sentimentos em suas partes essenciais, tê-los seria risonhamente desatualizado e irracional. 

E ser considerado desatualizado e irracional era o maior temor de cada um dos robniks. 

Todas as ações dos robniks eram dirigidas pela razão. Não, não pela razão em si mesma, mas por algo consideravelmente menos importante: racionalização, racionalidade. 

Os robniks estudavam bem porque isto era racional. 

Os robniks não faltavam às aulas porque isto seria irracional. 

A cada quinze dias, aos sábados, os robniks organizavam festas, bebiam, dançavam e, separando-se em casais, procuravam isolar-se. Os cérebros destas máquinas imperfeitas precisavam descansar. 

Os robniks interessavam-se somente pela ciência, porque isto era atual. 

Lógica e matemática. Sejamos como os robôs! 

O que seria isto? Moda ou algo mais terrível? E se isto fosse somente moda, então por que durava tanto tempo?... 

- Eu não posso viver sem você, entende, não consigo! – o professor ouviu de repente uma voz angustiada. – Quando você não está, penso que você e minha alma se enche de alegria assim que me lembro que verei você novamente. Não sei que nome dar a este meu sentimento. E fico triste e me sinto bem por estar triste. Você entende o que quer dizer? 

- Claro, querido... 

- “Aí está – pensou alegremente o professor – ainda existem verdadeiros sentimentos e verdadeiros seres humanos”! E isto o encheu de tanta gratidão para com aquele cuja conversa ouviu sem querer, que não se conteve e entrou no laboratório de onde vinham as vozes. 

No laboratório hão havia ninguém a não ser dois robôs. 

O velho professor balançou a cabeça, saiu e fechou a porta. 

Ele havia esquecido desta moda idiota que surgiu entre os robôs: agora tentavam imitar as fraquezas humanas. 



(Os Robniks; tradução de Victor E. Selin) 



(Ilustração: Eric Joyner)



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