domingo, 22 de outubro de 2017

PENHOR, de Walmir Ayala









Quanto pode valer um pássaro

de canto puro e goela solta

que gosta de carícia e se espreguiça

como qualquer amado amante?



O dono levou-o à penhora

por trinta e oito mil

cruzeiros. Diz

que vale o dobro.



Avaliado, não dá mais do que mil e quinhentos

diz o causídico do banco, e chama de brincadeira

esta causa de tão pessoal alcance.



Falando por seu advogado

o dono do pássaro diz

que o assunto é muito sério

e pede mesmo que o pássaro

seja tratado com carinho

pois cantando e recebendo amor

é que se prova valioso.



Neste poema, atentem, a palavra é tão banal,

mas o miolo é pura

poesia.

Difícil é contar como canta o pássaro.

Aí é que seríamos sublimes.





(Ilustração: René Magritte - a bird from an egg)




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