quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

VERSI DEL TESTAMENTO / VERSOS DO TESTAMENTO, de Pier Paolo Pasolini









La solitudine: bisogna essere molto forti

per amare la solitudine; bisogna avere buone gambe

e una resistenza fuori del comune; non si deve rischiare

raffreddore, influenza o mal di gola; non si devono temere

rapinatori o assassini; se tocca camminare

per tutto il pomeriggio o magari per tutta la sera

bisogna saperlo fare senza accorgersene; da sedersi non c’è;

specie d’inverno; col vento che tira sull’erba bagnata,

e coi pietroni tra l’immondizia umidi e fangosi;

non c’è proprio nessun conforto, su ciò non c’è dubbio,

oltre a quello di avere davanti tutto un giorno e una notte

senza doveri o limiti di qualsiasi genere.

Il sesso è un pretesto. Per quanti siano gli incontri

– e anche d’inverno, per le strade abbandonate al vento,

tra le distese d’immondizia contro i palazzi lontani,

essi sono molti – non sono che momenti della solitudine;

più caldo e vivo è il corpo gentile

che unge di seme e se ne va,

più freddo e mortale è intorno il diletto deserto;

è esso che riempie di gioia, come un vento miracoloso,

non il sorriso innocente o la torbida prepotenza

di chi poi se ne va; egli si porta dietro una giovinezza

enormemente giovane; e in questo è disumano,

perché non lascia tracce, o meglio, lascia una sola traccia

che è sempre la stessa in tutte le stagioni.

Un ragazzo ai suoi primi amori

altro non è che la fecondità del mondo.

È il mondo che così arriva con lui; appare e scompare,

come una forma che muta. Restano intatte tutte le cose,

e tu potrai percorrere mezza città, non lo ritroverai più;

l’atto è compiuto, la sua ripetizione è un rito. Dunque

la solitudine è ancora più grande se una folla intera

attende il suo turno: cresce infatti il numero delle sparizioni –

l’andarsene è fuggire – e il seguente incombe sul presente

come un dovere, un sacrificio da compiere alla voglia di morte.

Invecchiando, però, la stanchezza comincia a farsi sentire,

specie nel momento in cui è appena passata l’ora di cena,

e per te non è mutato niente; allora per un soffio non urli o piangi;

e ciò sarebbe enorme se non fosse appunto solo stanchezza,

e forse un po’ di fame. Enorme, perché vorrebbe dire

che il tuo desiderio di solitudine non potrebbe esser più soddisfatto,

e allora cosa ti aspetta, se ciò che non è considerato solitudine

è la solitudine vera, quella che non puoi accettare?

Non c’è cena o pranzo o soddisfazione del mondo,

che valga una camminata senza fine per le strade povere,

dove bisogna essere disgraziati e forti, fratelli dei cani.



Tradução de Cide Piquet e Davi Pessoa:



A solidão: é preciso ser muito forte

para amar a solidão; é preciso ter pernas firmes

e uma resistência fora do comum; não se deve arriscar

pegar um resfriado, gripe ou dor de garganta; não se devem temer

assaltantes ou assassinos; há que caminhar

por toda a tarde ou talvez por toda a noite

é preciso saber fazê-lo sem dar-se conta; sentar-se nem pensar;

sobretudo no inverno, com o vento que sopra na grama molhada

e grandes pedras em meio à sujeira úmida e lamacenta;

não existe realmente nenhum conforto, sobre isso não há dúvida,

exceto o de ter pela frente todo um dia e uma noite

sem obrigações ou limites de qualquer espécie.

O sexo é um pretexto. Sejam quais forem os encontros

― e mesmo no inverno, pelas ruas abandonadas ao vento,

ao longo das fileiras de lixo junto aos edifícios distantes,

que são muitos ― eles não passam de momentos da solidão;

mais quente e vivo é o corpo gentil

que exala sêmen e se vai,

mais frio e mortal é o querido deserto ao redor;

é isso o que enche de alegria, como um vento milagroso,

não o sorriso inocente ou a prepotência turva

de quem depois vai embora; ele traz consigo uma juventude

enormemente jovem; e nisso é desumano,

porque não deixa rastros, ou melhor, deixa um único rastro

que é sempre o mesmo em todas as estações.

Um jovem em seus primeiros amores

não é senão a fecundidade do mundo.

É o mundo que chega assim com ele; aparece e desaparece,

como uma forma que muda. Restam intactas todas as coisas,

e você poderia percorrer meia cidade, não voltaria a encontrá-lo;

o ato está cumprido, sua repetição é um rito; pois

a solidão é ainda maior se uma multidão inteira

espera sua vez; cresce de fato o número dos desaparecimentos ―

ir embora é fugir ― e o instante seguinte paira sobre o presente

como um dever; um sacrifício a cumprir como um desejo de morte.

Ao envelhecer, porém, o cansaço começa a se fazer sentir,

sobretudo naquela hora imediatamente após o jantar,

e para você nada mudou; então por um triz você não grita ou chora;

e isso seria enorme se não fosse mesmo apenas cansaço,

e talvez um pouco de fome. Enorme, porque significaria

que o seu desejo de solidão já não poderia ser satisfeito;

e então o que o aguarda, se isto que não se considera solidão

é a verdadeira solidão, aquela que você não pode aceitar?

Não há almoço ou jantar ou satisfação do mundo

que valha uma caminhada sem fim pelas ruas pobres,

onde é preciso ser desgraçado e forte, irmão dos cães.



(Trasumanar e organizzar)



(Ilustração: Peter Churcher - Australian, 1964)





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