terça-feira, 8 de setembro de 2015

DESENCONTRO, de Jorge de Sena








Só quem procura sabe como há dias

de imensa paz deserta; pelas ruas

a luz perpassa dividida em duas:

a luz que pousa nas paredes frias,

outra que oscila desenhando estrias

nos corpos ascendentes como luas

suspensas, vagas, deslizantes, nuas,

alheias, recortadas e sombrias.



E nada coexiste. Nenhum gesto

a um gesto corresponde; olhar nenhum

perfura a placidez, como de incesto,

de procurar em vão; em vão desponta

a solidão sem fim, sem nome algum -

- que mesmo o que se encontra não se encontra.




(Post-Scriptum)




(Ilustração: Yvonne Jeanette Karlsen )


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