sexta-feira, 29 de maio de 2015

CANÇÃO DO EXÍLIO, de Murilo Mendes








Minha terra tem macieiras da Califórnia

onde cantam gaturamos de Veneza.

Os poetas da minha terra

são pretos que vivem em torres de ametista,

os sargentos do exército são monistas, cubistas,

os filósofos são polacos vendendo a prestações.

A gente não pode dormir

com os oradores e os pernilongos.

Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.

Eu morro sufocado

em terra estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

nossas frutas mais gostosas

mas custam cem mil réis a dúzia.




Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade

e ouvir um sabiá com certidão de idade!


(Poemas; 1925-1931)



(Ilustração: Militão dos Santos - aves do paraíso)

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