sexta-feira, 8 de julho de 2011

O PALHAÇO, do Padre Antônio Tomaz









Ontem, viu-se-lhe em casa a esposa morta

E a filhinha mais nova, tão doente!

Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta,

Que a platéia o reclama, impaciente.


Ao palco, em breve surge... pouco importa

O seu pesar àquela estranha gente...

E ao som das ovações que os ares corta,

Trejeita, canta e ri, nervosamente.


Aos aplausos da turba, ele trabalha

Para encontrar no manto em que se embuça

A cruciante angústia que o retalha.


No entanto, a dor cruel mais se lhe aguça

E enquanto o lábio trêmulo gargalha,

Dentro do peito o coração soluça.


(Ilustração: Bernard Buffet)



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