terça-feira, 23 de dezembro de 2025

CANCIÓN DEL ESPOSO A SU AMADA /CANÇÃO DO ESPOSO PARA A AMADA, de Eunice Odio

 


1.     

Asomada a mi pecho

Tatuada en él como la edad

y el daño.

Como una suave grey de colinas

cuyo rumbo retorna con el alba,

Habla mi amada

con su amor que tiene

apenas pecho diurno y voz descalza.

A mi sombra

se bordearon de pulpa sus caderas.

Por mí arrea con sus pechos

el ganado del alba,

Y la tarde a su paso se quebranta,

como de junco herido

y laurel entornado.

Párpados transitados

de nieve y mediodía,

Pozo donde mi boca

desmedida resbala

como torrente de paloma

y sal humedecida.

– Sobre los muslos te pusieron

racimos de ira y vocación de besos.

Yo haré que de tus muslos

bajen manojos de agua,

y entrecortada espuma,

y rebaños secretos.

Ven,

Amada.

Los árboles

todos tienen tu cándida estatura,

y tu párpado caído,

y tu gesto mojado,

Edificio de alondras

habitado de climas

donde legisla el sol

sobre viñedos de oro.

A tu sombra

me encontrarán los pájaros salvajes.

Tu voz de aire caído

entre cuatro azucenas,

desfilará en mi oído

como acude la tarde.

Ven,

te probaré con alegría.

Tú soñarás conmigo

esta noche.

 

Tradução de Luiza Nilo Nunes:

 

Caída no meu peito

Tatuada no meu peito como a idade

e o desastre.

Como uma frágil irmandade de colinas

norteadas pela manhã,

Fala a minha amada

com seu amor que mal

tem peito diurno e voz descalça.

À minha sombra

as suas ancas rodearam-se de pomos.

Para mim ela aparelha com seus seios

o gado da manhã,

E quebra-se o poente à sua passagem,

como de junco ferido

e loureiro derrubado.

Pálpebras transitadas

de neve e meio-dia,

Tanque onde se afoga

a minha boca profunda

como correntes de pombas

e sal humedecido.

– Sobre as coxas puseram-te

cachos de cólera e vocação de beijos.

De tuas coxas farei

descer cardumes de água,

e espuma interrompida,

e secretos rebanhos.

Vem,

Amada.

Todas as árvores

têm tua cândida altura,

e tua pálpebra descida,

e teu gesto molhado,

Prédio de cotovias

habitado por febres

onde ministra o sol

sobre vinhedos de ouro.

À tua sombra

hão de encontrar-me os pássaros selvagens.

Tua voz de melancólico sopro

entre quatro açucenas,

soará em meus ouvidos

como o chamado da tarde.

Vem,

provar-te-ei com alegria.

Tu sonharás comigo

esta noite.

 

(Os elementos terrestres e outros poemas, 2020).

 

(Ilustração: Frida Castelli)



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