terça-feira, 21 de novembro de 2023

NEGRA. NUA. CRUA., de Mel Duarte

 




Eu não preciso tirar a roupa pra mostrar que sou atraente

Minha postura e ideia é que fazem atrair tanta gente.

Da minha boca disparam palavras

Verdades, viveres

E através dela trago coisas que fazem fluir a mente...



Também ingiro dores é fato, mas só quem sabe sente

E para amenizar, solto sentenças contundentes.

Não me distraio com comentários hipócritas só porque não uso pente

Minha avó já dizia: Respeito te faz manter os dentes!



A carta de alforria há tempos foi assinada

Mas ainda vejo o negro como obra de mão barata,

A mulher negra sendo chamada de mulata

E minha fé a todo tempo sendo testada.



Eu exijo respeito, novo-velho senhor de engenho

Ser considerada “a carne mais barata do mercado’’ EU NÃO ACEITO!

Trago calos em minhas mãos sim, pelo trabalho que desempenho

E enquanto a caneta for minha enxada não me faltará alimento.



Minhas curvas mais bonitas

Desfilam através de devaneios

E minha fala hoje é bruta pra fincar dentro do peito.

Sou poeta e das rimas faço meu sustento.

Me apresento:

- Mel

Negra, nua, crua de sentimento.



(Negra, nua, crua. 2016)



(Ilustração : Lanise Howard - Contemplating Impermanence, 2020)

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