Eu não preciso tirar a roupa pra mostrar que sou atraente
Minha postura e ideia é que fazem atrair tanta gente.
Da minha boca disparam palavras
Verdades, viveres
E através dela trago coisas que fazem fluir a mente...
Também ingiro dores é fato, mas só quem sabe sente
E para amenizar, solto sentenças contundentes.
Não me distraio com comentários hipócritas só porque não uso pente
Minha avó já dizia: Respeito te faz manter os dentes!
A carta de alforria há tempos foi assinada
Mas ainda vejo o negro como obra de mão barata,
A mulher negra sendo chamada de mulata
E minha fé a todo tempo sendo testada.
Eu exijo respeito, novo-velho senhor de engenho
Ser considerada “a carne mais barata do mercado’’ EU NÃO ACEITO!
Trago calos em minhas mãos sim, pelo trabalho que desempenho
E enquanto a caneta for minha enxada não me faltará alimento.
Minhas curvas mais bonitas
Desfilam através de devaneios
E minha fala hoje é bruta pra fincar dentro do peito.
Sou poeta e das rimas faço meu sustento.
Me apresento:
- Mel
Negra, nua, crua de sentimento.
(Negra, nua, crua. 2016)
(Ilustração : Lanise Howard - Contemplating Impermanence, 2020)
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