sexta-feira, 28 de abril de 2023

POEMA, de Micheliny Verunschk

 



[para Ana Cristina César]



I



retalhar a carne

que a carne é fraca

tanto se lhe bata

chicote ou sálvia

tanto se lhe faça

desenho a faca

pau pedra porra

brava brecha brasa

cantemos aleluias

pele pica pala

retalhar a carne

que a carne é graça

renda e louvor

céu e pássara.



II



se render à carne

que a carne é fraca

tanto se lhe queira

o lume a brasa

tanto se lhe bata

onda ou palma

espinho que penetre

uva vulva gruta

cantemos nossa graça

e a pele mais elástica

se render à carne

que a carne é graça

dobra e redobra

peixe e água.



III



se fartar de carne

que a carne é fraca

tanto se lhe morda

o dente a acha

tanto se lhe busque

a mão a alma

olho que a desnude

peitopêlo lábios

broto lua grelo

saudemos nossa caça

se fartar de carne

que a carne é graça

tecido que se esgarça

terra e casa.



(Ilustração: foto de Katia Muricy: Ana Cristina César)

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