sábado, 21 de janeiro de 2023

AN DIE PARZEN / PARA AS PARCAS / ÀS PARCAS, de Friedrich Hölderlin

 




Nur einen Sommer gönnt, ihr Gewaltigen!

Und einen Herbst zu reifem Gesange mir,

Daß williger mein Herz, vom süßen

Spiele gesättiget, dann mir sterbe!



Die Seele, der im Leben ihr göttlich Recht

Nicht ward, sie ruht auch drunten im Orkus nicht;

Doch ist mir einst das Heilge, das am

Herzen mir liegt, das Gedicht gelungen:



Willkommen dann, o Stille der Schattenwelt!

Zufrieden bin ich, wenn auch mein Saitenspiel

Mich nicht hinabgeleitet; einmal

Lebt ich, wie Götter, und mehr bedarfs nicht.



Tradução de Wagner Schadeck:



Pra mim, um só estio, Potestades,

E um só outono de canções maduras,

E, satisfeito desse doce jogo,

Meu coração apronta-se a morrer.



A alma que em vida não servira às leis

Divinas no Orco não repousará;

Mas surgindo o sagrado, que me habita

O coração, sucede-me a Poesia:



Bem-vindo sejas, ó sombrio reino!

Irei alegre, embora a minha lira

Não me acompanhe. Mas por uma vez

Vivera eu como os deuses. E isto basta.




Tradução de José Paulo Paes:



Dai-me, Potestades, mais um verão apenas,

Apenas um outono de maduro canto,

Que de bom grado, o coração já farto

Do suave jogo, morrerei então.



A alma que em vida nunca desfrutou os seus

Direitos divinos nem no Orco acha repouso;

Mas se eu lograr o que é sagrado, o que

Trago em meu coração, a Poesia,



Serás bem-vinda então, paz do mundo das sombras!

Contente ficarei, mesmo que a minha lira

Não leve comigo; uma vez, ao menos,

Vivi como os deuses, e é quanto basta.



Tradução de Manuel Bandeira:



Mais um verão, mais um outono, ó Parcas,

Para amadurecimento do meu canto

Peço me concedais. Então, saciando

Do doce jogo, o coração me morra.



Não sossegará no Orco a alma que em vida

Não teve a sua parte de divino.

Mas se em meu coração acontecesse

O sagrado, o que importa, o poema, um dia:



Teu silêncio entrarei, mundo das sombras,

Contente, ainda que as notas do meu canto

Não me acompanhem, que uma vez ao menos

Como os deuses vivi, nem mais desejo.




(Ilustração: Sodoma - Die drei Parzen - c.1525)

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