quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

CARTA DE GRATIDÃO AO MESTRE, de Albert Camus






19 de novembro de 1957



Caro Monsieur Germain,



Deixei que passasse um pouco o movimento que me envolveu todos esses dias antes de vir-lhe falar-lhe de coração aberto. Acaba de me ser feita uma grande honra que não busquei, nem solicitei. Mas quando eu soube da novidade, meu primeiro pensamento, depois de minha mãe, foi para você. Sem você, sem essa mão afetuosa que você estendeu ao menino pobre que eu era, sem seu ensino, sem seu exemplo, nada disso teria acontecido. Eu não faço questão dessa espécie de honra. Mas essa é ao menos uma ocasião para dizer-lhe o que você foi e é sempre para mim, e para assegurar-lhe que os seus esforços, o seu trabalho e o coração generoso que você coloca em tudo que faz, sempre de maneira viva com relação a um de seus pequenos discípulos que, não obstante a idade, não cessou jamais de ser seu aluno reconhecido. Eu o abraço com todas as minhas forças.



Albert Camus



(O primeiro homem; tradução de Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca e Maria Luiza Newlands Silverira)



(Ilustração: hussardos negros - escola da primeira república - ano 1906 - autor desconhecido)


(Nota do blog: Os professores da Terceira República costumam ser chamados de hussardos negros, referia-se a um esquadrão de cavalaria criado em 1793 para defender a jovem república nascida da Revolução, mas também à elegância da cavalaria do Cadre Noir de Saumur. Era uma metáfora: os professores também tinham sua guerra para travar no início do século 19 , a ignorância era seu inimigo.)

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