domingo, 24 de outubro de 2021

A CHAMA SECRETA, de Denise Emmer

 





Apareço nesta noite como um sol de asas

Venho dos polos desmaiados e das florestas em brasa

Quando ardo sou uma espécie que agoniza

Quando sorrio é porque a grande árvore floresce



Anunciam-me os reis guardados e estamos num gueto

Mulheres descalças de seios de vento me embalam

Sou o beijo que elas já não pedem

O calor de seus ventres sem enredo

A cidade sonhada, o país estrelado, o lar aquecido,

O primeiro e o último filho



Sou a lanterna do cão sem olhos



Novos livros me inventam, revoluções me transformam

Mas passo pelos corredores do mar

Como um navio eterno

E a minha linguagem é a beleza das estrelas

Que atravessa os séculos



Sou o menino sagrado que riscou o céu

Para a paz sem riscos



... a chama secreta que acenderá as lareiras

das casas do inverno.



(Ilustração: Harry Holland - falling)

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