domingo, 14 de fevereiro de 2021

OUÇO UMA FONTE, de Augusto Frederico Schmidt


  

Ouço uma fonte

É uma fonte noturna

Jorrando.

É uma fonte perdida

No frio.



É uma fonte invisível.

É um soluço incessante,

Molhado, cantando.



É uma voz lívida.

É uma voz caindo

Na noite densa

E áspera.



É uma voz que não chama.

É uma voz nua.

É uma voz fria.

É uma voz sozinha.



É a mesma voz.

É a mesma queixa.

É a mesma angústia,

Sempre inconsolável.



É uma fonte invisível,

Ferindo o silêncio,

Gelada jorrando,

Perdida na noite.

É a vida caindo

No tempo!



(Fonte invisível, 1949)

(Ilustração: Giacomo Jaquerio - foutain of life)

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