quinta-feira, 16 de maio de 2019

MARRIAGE / MATRIMÔNIO, de Gregory Corso






Should I get married? Should I be good?

Astound the girl next door with my velvet suit and faustus hood?

Don’t take her to movies but to cemeteries

tell all about werewolf bathtubs and forked clarinets

then desire her and kiss her and all the preliminaries

and she going just so far and I understanding why

not getting angry saying You must feel! It’s beautiful to feel!

Instead take her in my arms lean against an old crooked tombstone

and woo her the entire night the constellations in the sky—



When she introduces me to her parents

back straightened, hair finally combed, strangled by a tie,

should I sit knees together on their 3rd degree sofa

and not ask Where’s the bathroom?

How else to feel other than I am,

often thinking Flash Gordon soap—

O how terrible it must be for a young man

seated before a family and the family thinking

We never saw him before! He wants our Mary Lou!

After tea and homemade cookies they ask What do you do for a living?



Should I tell them? Would they like me then?

Say All right get married, we’re losing a daughter

but we’re gaining a son—

And should I then ask Where’s the bathroom?



O God, and the wedding! All her family and her friends

and only a handful of mine all scroungy and bearded

just wait to get at the drinks and food—

And the priest! he looking at me as if I masturbated

asking me Do you take this woman for your lawful wedded wife?

And I trembling what to say say Pie Glue!

I kiss the bride all those corny men slapping me on the back

She’s all yours, boy! Ha-ha-ha!

And in their eyes you could see some obscene honeymoon going on―



Then all that absurd rice and clanky cans and shoes

Niagara Falls! Hordes of us! Husbands! Wives! Flowers! Chocolates!

All streaming into cozy hotels

All going to do the same thing tonight

The indifferent clerk he knowing what was going to happen

The lobby zombies they knowing what

The whistling elevator man he knowing

The winking bellboy knowing

Everybody knowing! I’d be almost inclined not to do anything!

Stay up all night! Stare that hotel clerk in the eye!

Screaming: I deny honeymoon! I deny honeymoon!

running rampant into those almost climactic suites

yelling Radio belly! Cat shovel!

O I’d live in Niagara forever! in a dark cave beneath the Falls

I’d sit there the Mad Honeymooner

devising ways to break marriages, a scourge of bigamy

a saint of divorce—



But I should get married I should be good

How nice it’d be to come home to her

and sit by the fireplace and she in the kitchen

aproned young and lovely wanting my baby

and so happy about me she burns the roast beef

and comes crying to me and I get up from my big papa chair

saying Christmas teeth! Radiant brains! Apple deaf!

God what a husband I’d make! Yes, I should get married!

So much to do! like sneaking into Mr Jones’ house late at night

and cover his golf clubs with 1920 Norwegian books

Like hanging a picture of Rimbaud on the lawnmower

like pasting Tannu Tuva postage stamps all over the picket fence

like when Mrs Kindhead comes to collect for the Community Chest

grab her and tell her There are unfavorable omens in the sky!

And when the mayor comes to get my vote tell him

When are you going to stop people killing whales!

And when the milkman comes leave him a note in the bottle

Penguin dust, bring me penguin dust, I want penguin dust—



Yet if I should get married and it’s Connecticut and snow

and she gives birth to a child and I am sleepless, worn,

up for nights, head bowed against a quiet window, the past behind me,

finding myself in the most common of situations a trembling man

knowledged with responsibility not twig-smear nor Roman coin soup—

O what would that be like!

Surely I’d give it for a nipple a rubber Tacitus

For a rattle a bag of broken Bach records

Tack Della Francesca all over its crib

Sew the Greek alphabet on its bib

And build for its playpen a roofless Parthenon



No, I doubt I’d be that kind of father

not rural not snow no quiet window

but hot smelly tight New York City

seven flights up, roaches and rats in the walls

a fat Reichian wife screeching over potatoes Get a job!

And five nose running brats in love with Batman

And the neighbors all toothless and dry haired

like those hag masses of the 18th century

all wanting to come in and watch TV

The landlord wants his rent

Grocery store Blue Cross Gas & Electric Knights of Columbus

Impossible to lie back and dream Telephone snow, ghost parking—

No! I should not get married I should never get married!

But—imagine If I were married to a beautiful sophisticated woman

tall and pale wearing an elegant black dress and long black gloves

holding a cigarette holder in one hand and highball in the other

and we lived high up a penthouse with a huge window

from which we could see all of New York and even farther on clearer days

No, can’t imagine myself married to that pleasant prison dream—



O but what about love? I forget love

not that I am incapable of love

it’s just that I see love as odd as wearing shoes—

I never wanted to marry a girl who was like my mother

And Ingrid Bergman was always impossible



And there’s maybe a girl now but she’s already married

And I don’t like men and—

but there’s got to be somebody!

Because what if I’m 60 years old and not married,

all alone in a furnished room with pee stains on my underwear

and everybody else is married! All the universe married but me!



Ah, yet well I know that were a woman possible as I am possible

then marriage would be possible—

Like SHE in her lonely alien gaud waiting her Egyptian lover

so I wait—bereft of 2,000 years and the bath of life.





Tradução de M.D. Bandarra:





Devo casar-me? Devo ser bom?

Assustar a moça da porta ao lado com meu terno de veludo e capote faustoso?

Não levá-la ao cinema mas aos cemitérios

contar tudo sobre banheiras de lobisomem e clarinetes bifurcados

então desejá-la e beijá-la e todas as preliminares

e ela indo tão longe e eu entendendo o porquê

não me zangando e dizendo Você deve sentir! É lindo sentir!

Ao invés tomá-la em meus braços recostar em uma velha lápide encurvada

e cortejá-la toda a noite as constelações no céu-



Quando ela me apresentar a seus pais

coluna alinhada, cabelo enfim penteado, estrangulado por uma gravata

devo sentar-me joelhos unidos em seu sofá de interrogatório

e não perguntar Onde é o banheiro?

Como sentir senão que eu sou, sempre pensando no sabão do Flash Gordon-

Ó que terrível deve ser para um jovem

sentado diante da família e a família a pensar

Nós nunca o vimos antes! Ele quer nossa Mary Lou!

Depois do chá e biscoitos feitos em casa eles perguntam Que você faz pra viver?



Devo dizer-lhes: Eles gostariam de mim, então?

Dizem Tudo bem, casem, nós estamos perdendo uma filha

mas estamos ganhando um filho-

E devo eu então perguntar Onde é o banheiro?

Ó Deus, e o casamento! Toda a família e amigos dela

e só um punhado dos meus, esfarrapados e barbudos

esperam a hora dos drinks e da comida

E o padre! me olhando como se eu me masturbasse

perguntando Você aceita esta mulher como sua legítima esposa?

E eu tremendo o que dizer digo Azeito!

Eu beijo a noiva todos aqueles homens chatos dando tapinhas em minhas costas

Ela é toda sua, garoto! Ha-ha-ha!

E nos seus olhos você poderia ver acontecendo uma obscena lua-de-mel-



Então todo aquele absurdo arroz e latas barulhentas e sapatos

Cataratas do Niágara! Hordas de nós! Maridos! Esposas! Flores! Chocolates!

Todos manando para hotéis confortáveis

Todos vão fazer a mesma coisa esta noite

O recepcionista indiferente sabendo o que ia acontecer

Os zumbis do lobby sabendo o que

O ascensorista sabendo

O piscante mensageiro sabendo

Todo mundo sabendo! Eu estaria quase inclinado a não fazer coisa alguma!

Passar a noite em claro! Olhar vidrado nos olhos do recepcionista do hotel!

Gritando: Eu nego a lua-de-mel! Eu nego a lua-de-mel!

correndo desabalado pra dentro daquelas suítes quase culminares

berrando Barriga de rádio! Pá de gato!

Ó eu viveria eternamente no Niágara! em uma caverna escura debaixo das Cataratas

Sentado ali o Louco em lua-de-mel

formulando meios de destruir casamentos, um flagelo de bigamia

um santo do divórcio-



Mas eu devo casar-me Devo ser bom

Que bom seria voltar pra casa para ela

e sentar em frente à lareira e ela na cozinha

de avental, jovem e adorável querendo meu bebê

e tão feliz comigo ela queima o rosbife

e vem chorando e eu levanto da minha grande cadeira-do-papai

dizendo Dentes de natal! Cérebro radiante! Maçã surda!

Deus que marido eu daria! Sim! Devo casar-me!

Tanto a fazer! como esgueirar-me pela casa do Sr. Jones tarde da noite

e cobrir seus tacos de golfe com livros noruegueses de 1920

Como pendurar uma foto de Rimbaud no cortador de grama

como colar selos de Tannu Tuvu[**] por toda a cerca

como quando a Sra. Bondosa vier coletar para caridade

segurá-la e dizer Há sinais desfavoráveis no céu!

E quando o prefeito vier ganhar meu voto dizer a ele

Quando vocês vão fazer as pessoas pararem de matar baleias!

E quando vier o leiteiro deixar um bilhete para ele na garrafa

Pó de pinguim, me traga pó de pinguim, eu quero pó de pinguim-



Todavia se devo casar-me e for Connecticut e neve

e ela der à luz a uma criança e eu estiver insone, exausto,

noites em claro, cabeça inclinada contra uma janela quieta, o passado atrás de mim,



me encontrando, na mais comum das situações, um homem trêmulo

sapiente com responsabilidade não visco nos galhos nem sopa de moedas romanas-

Ó como seria isso!

Certamente eu o daria como chupeta um tacitus [*] de borracha

como chocalho um saco de discos de Bach quebrados

Pregar Della Francesca por todo seu berço

Bordar o alfabeto grego em seu babeiro

E construir seu chiqueirinho como um Parthenon sem teto



Não, eu duvido que desse um pai assim

nem rural nem neve nem janela quieta

e sim a quente fedida apertada cidade de Nova York

Seis lances de escada, baratas e ratos nas paredes

Uma gorda esposa Reichiana ganindo por sobre batatas Arrume um emprego!

E cinco pestinhas ranhentos apaixonados pelo Batman

E as vizinhas todas banguelas de cabelo espigado

como aquelas massas de megeras do século XVIII

todas querendo entrar e assistir TV

O senhorio quer seu aluguel

Mercearia Cruz Azul Gás e Cavaleiros Elétricos de Colombo

Impossível deitar e sonhar Neve telefônica, Estacionamento fantasma-

Não! Não devo casar-me Eu devo nunca casar-me!

Mas – imagine se eu fosse casado com uma mulher linda e sofisticada

alta e pálida vestindo um elegante vestido preto e longas luvas negras

Segurando uma piteira em uma mão e um cocktail na outra

e nós morássemos no alto de uma cobertura com uma imensa janela

da qual poderíamos ver toda Nova York e muito mais longe nos dias mais claros

Não, Não posso me imaginar casado com esta agradável prisão de sonho-

Ó mas e o amor? Esqueço do amor

não que eu seja incapaz do amor

é só que vejo o amor tão esquisito quanto usar sapatos-

Eu nunca quis casar-me com uma garota que fosse como minha mãe

E Ingrid Bergman sempre foi impossível

E há talvez uma garota agora mas ela já é casada

E eu não gosto de homens e-

mas tem que haver alguém!

Porque E se eu tiver 60 anos e não for casado

totalmente só em um cômodo mobiliado com manchas de mijo nas cuecas

e todo o resto do mundo estiver casado! Todo o universo estiver casado menos eu!



Ah, no entanto eu bem sei que se uma mulher fosse possível

como eu sou possível então o casamento seria possível-

Como ELA em sua solitária pompa estrangeira esperando seu amante egípcio

então eu espero – mal amado de 2000 anos e do banho da vida.



Notas:

[*] Tacitus, antiga moeda romana, homenagem ao Imperador de mesmo nome, e completa a referência logo a seguir, “sopa de moedas romanas”. Estas alusões completam o clima e se cruzam em outras partes do poema como a dos “velhos discos de Bach”, e, mais acima, os “selos de Tannu Tuvu”.

[**] República de Tuva, Tannu Tuvu, ou ainda Tannu Tuva, é um paisinho ao sul da Sibéria, espremido entre a união soviética e a mongólia , famoso por seus selos, muitos com estampas de pássaros e outros animais. Os desenhos e motivos são tão cobiçados e cultuados pelos colecionadores que existe até uma sociedade de colecionadores de selos de Tannu Tuva.


(Ilustração: Pietr Bruegel - The Wedding Dance)




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