sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

PRINCÍPIO DO PRAZER, de Vasco Graça Moura







à sua volta os pombos cor de lava

nos arabescos pretos do basalto

e gente, muita gente que passava

e se detinha a olhá-la em sobressalto



no seu olhar havia uma promessa

nos seus quadris dançava um desafio

num relance de barco mas sem pressa

que fosse ao sol-poente pelo rio



trazia nos cabelos um perfume

a derramar-se em praias de alabastro

e um brilho mais sombrio quase lume

de fogo-fátuo a coroar um mastro



seu porte altivo punha à vista o puro

princípio do prazer que caminhava

carnal e nobre e lúcido e seguro

com qualquer coisa de uma orquídea brava



e nas ruas da baixa pombalina

sua blusa encarnada era a bandeira

e o grito da revolta na retina

de quem fosse atrás dela a vida inteira.





(Ilustração: Francisco Ribera Gomez - Raza)




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