Quand vous serez bien vieille, au soir à la chandelle,
Assise auprès du feu, devidant e filant,
Direz chantant mês vers, em vous esmerveillant:
"Ronsard me celebroit du temps que j'estois belle."
Lors vous n'auray servant oyant telle nouvelle,
Desja sous le labeur à demy sommeillant,
Qui au bruit de mon nom ne s'aille resveillant,
Benissant vostre nom de louange immortelle.
Je seray sous la terre, et fantôme sans os
Par lês ombres myrteux je prendray mon repôs;
Vous serez au foyer une vielle accroupie,
Regrettant mon amour et vostre fier desdain,
Vivez, si m'en croyez, n'attendez à demain:
Cueillez dês aujourdhuy lês roses de la vie.
Tradução de Guilherme de Almeida:
Quando fores bem velha, à noite, á luz da vela
Junto ao fogo do lar, dobando o fio e fiando,
Dirás, ao recitar meus versos e pasmando:
Ronsard me celebrou no tempo em que fui bela.
E entre as servas então não há de haver aquela
Que, já sob o labor do dia dormitando,
Se o meu nome escutar não vá logo acordando
E abençoando o esplendor que o teu nome revela.
Sob a terra eu irei, fantasma silencioso,
Entre as sombras sem fim procurando repouso:
E em tua casa irás, velhinha combalida,
Chorando o meu amor e o teu cruel desdém.
Vive sem esperar pelo dia que vem;
Colhe hoje, desde já, colhe as rosas da vida.
Quando fores bem velha, à noite junto à vela,
Sentada ao pé do fogo, enovelando e fiando,
Dirás, cantando os versos meus e te enlevando:
“Ronsard me celebrava ao tempo em que era bela”.
Então nem haverá, ouvindo o recital,
Serva, ao fim do trabalho e semi-sonolenta,
Que, com som do meu nome, não desperte atenta
A saudar o teu nome em louvor imortal.
Estarei sob a terra e, fantasma sem osso,
Pelas sombras dos mirtos terei meu repouso;
Tu serás à lareira uma anciã encolhida
Chorando o meu amor e o teu fero desdém.
Se me crês, não espere o amanhã também:
Vive, colhe desde hoje as rosas desta vida.
Tradução de Heitor P. Froes:
Quando já bem velhinha, à noite, à luz da vela,
Sentada ante a lareira estiveres fiando,
Dirás, ao recordar-me, o coração pulsando:
Ronsard cantou-me em verso, ao tempo em que fui bela'
Já não terás, então, como serva a donzela
Que, ao peso do cansaço às vezes ressonando,
Ouvindo-me invocar despertava, abençoando
O teu nome imortal que meu verso revela.
O corpo sepultado, a alma livre e sem pouso,
À sombra dos mirtais encontrarei repouso;
Tu — do tempo curvada à fatal inclemência —
Chorarás meu amor e teu frio desdém...
Não fiques a esperar pelo dia que vem:
Colhe enquanto inda é tempo as rosas da existência!
(Nota: texto em francês com ortografia original)
(Ilustração: Javier Arizabalo)
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