quinta-feira, 18 de setembro de 2025

IN TABERNA / NA TABERNA, de Anônimo do Século XIII (Carmina Burana)

   




In taberna quando sumus

non curamus quid sit humus,

sed ad ludum properamus,

cui semper insudamus.

Quid agatur in taberna

ubi nummus est pincerna,

hoc est opus ut queratur,



si quid loquar, audiatur.

Quidam ludunt, quidam bibunt,

quidam indiscrete vivunt.

Sed in ludo qui morantur,

ex his quidam denudantur

quidam ibi vestiuntur,

quidam saccis induuntur.

Ibi nullus timet mortem,

sed pro Baccho mittunt sortem.



Primo pro nummata vini,

ex hac bibunt libertini;

semel bibunt pro captivis,

post hec bibunt ter pro vivis,

quater pro Christianis cunctis,

quinquies pro fidelibus defunctis,

sexies pro sororibus vanis,

septies pro militibus silvanis.



Octies pro fratribus perversis,

nonies pro monachis dispersis,

decies pro navigantibus

undecies pro discordaniibus,

duodecies pro penitentibus,

tredecies pro iter agentibus.

Tam pro papa quam pro rege

bibunt omnes sine lege.



Bibit hera, bibit herus,

bibit miles, bibit clerus,

bibit ille, bibit illa,

bibit servis cum ancilla,

bibit velox, bibit piger,

bibit albus, bibit niger,

bibit constans, bibit vagus,

bibit rudis, bibit magnus,



Bibit pauper et egrotus,

bibit exul et ignotus,

bibit puer, bibit canus,

bibit presul et decanus,

bibit soror, bibit frater,

bibit anus, bibit mater,

bibit ista, bibit ille,

bibunt centum, bibunt mille.



Parum sexcente nummate

durant, cum immoderate

bibunt omnes sine meta.

Quamvis bibant mente leta,

sic nos rodunt omnes gentes

et sic erimus egentes.

Qui nos rodunt confundantur

et cum iustis non scribantur.



Tradução de Jorge de Sena:



Na taberna quando estamos,

De mais nada nós curamos,

Que do jogo que jogamos,

Mais do vinho que bebemos.

Quando juntos na taberna,

Numa confusão superna,

Que fazemos nós por lá?

Não sabeis? Pois ouvi cá.



Nós jogamos, nós bebemos,

A tudo nos atrevemos.

O que ao jogo mais se esbalda

Perde as bragas, perde a fralda,

E num saco esconde o couro,

Pois que um outro conta o ouro.

E a morte não val’ um caco

Pra quem só joga por Baco.



Nossa primeira jogada

É por quem paga a rodada.

Depois se bebe aos cativos,

E a seguir aos que estão vivos.

Quarta roda, aos cristãos juntos.

Quinta roda, aos fiéis defuntos.

Sexta, às putas nossas manas,

E sete às bruxas silvanas.



Oito, aos manos invertidos.

Nove, aos frades foragidos,

Dez, se bebe aos navegantes,

Onze, é para os litigantes,

E doze , dos suplicantes,

E treze, pelos viandantes.

Pelo Papa e pelo Rei

Bebemos então sem lei.



Bebem patroa e patrão,

Bebem padre e capitão,

Bebe o amado e bebe a amada,

Bebem criado e criada,

Bebe o quente e o piça fria,

Bebe o da noite e o do dia,

Bebe o firme, bebe o vago,

Bebe o burro e bebe o mago.



Bebe o pobre e bebe o rico,

Bebe o pico-serenico,

Bebe o infante, bebe o cão,

Bebem cónego e deão,

Bebe a freira e bebe o frade,

Bebe a besta, bebe a madre,

Bebem todos do barril,

Bebem cento, bebem mil.



Nenhuma pipa se aguenta

Com esta gente sedenta,

Quando bebe sem medida

Quem de beber faz a vida.

E quem de nós se fiou,

Sem cheta s’arrebentou.

E quem de nós prejulgava,

Se quiser, que vá à fava.



(Poesia de 26 séculos, 2001)



(Ilustração: Jan Miense Molenaer (Dutch, b. ca. 1610–1668) - Tavern of the Crescente Moon)

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