sexta-feira, 2 de maio de 2025

DENTRO DE CADA MÁQUINA, de Ernesto von Artixzffski (Sergio Maciel)

 





dentro de cada máquina escorre o sangue dos empregados.

dentro de cada máquina escorre o sangue das empregadas, das mulheres e das fêmeas.

dentro de cada máquina, escorre o sêmen dos machos.

dentro de cada máquina.



dentro de cada máquina há uma infinidade de pedras.

dentro de cada máquina, há o choro das lâminas.

dentro de cada máquina há o arrepio e o arrependimento.

sempre dentro de cada máquina.



dentro de cada máquina há ruas sem saída.

dentro de cada máquina, há o cheiro dos mendigos.

dentro de cada máquina, cai a neve esperada.

dentro de cada máquina nunca nascerá nenhuma flor.

dentro de cada máquina.



dentro de cada máquina não cabe a lua.

dentro de cada máquina, há divisões, cimento e dormitórios.

dentro de cada máquina há sempre sirenes.

dentro de cada máquina, cabe a noite e o peito devorado.



dentro de cada máquina, o ar é fumaça.

dentro de cada máquina, moribundos dormem sobre a ponta dos alfinetes.

dentro de cada máquina o banquete não sacia a fome de tantas bocas.

dentro de cada máquina não se faz sexo.



dentro de cada máquina sempre haverá uma navalha para cada carne.

dentro de cada máquina não existe a lembrança das coisas.

dentro de cada máquina, há o pó, a pólvora e o fumo.

dentro de cada máquina, sempre dentro de cada máquina,

há insetos decrépitos, agrupados, abandonados e sós.



mas apenas dentro de cada máquina.





(Ilustração: H. R. Giger - erotomechanics IV)

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