domingo, 30 de julho de 2023
A FALSIDADE QUE NOS FAZ MURCHAR (DIÁRIO: 26 DE ABRIL), de Alba de Céspedes
quinta-feira, 27 de julho de 2023
KILLED PIAVE / MORTE EM PIAVE, de Ernest Hemingway
Desire and
All the sweet pulsing aches
And gentle hurtings
That were you,
Are gone into the sullen dark.
Now in the night you come unsmiling
To lie with me
A dull, cold, rigid bayonet
On my hot-swollen, throbbing soul.
Tradução de Gustavo Gouveia:
O desejo e
Todas as doces dores latejantes
E suave sofrimento
Que foram você,
Estão em um escuro taciturno.
Agora à noite você vem sem sorriso
Deitar-se comigo
Uma baioneta dura, fria e bruta
No meu espírito entumecido e rijo.
Nota: Battle of the Piave River - A Batalha do Rio Piave, 1918, constituiu o último grande ataque austro-húngaro à frente italiana e praticamente anunciou a desintegração do exército austro-húngaro a caminho do desmantelamento do império.
(Ilustração: Royal Navy official photographer - The Battle of the Piave River, June 1918: Italian Marines landing from barges to take up positions on the Piave Front).
segunda-feira, 24 de julho de 2023
NAÇÃO ATIVA, NAÇÃO PASSIVA, de Milton Santos
sexta-feira, 21 de julho de 2023
FOTTIAMCI, VITA MIA, FOTTIAMCI PRESTO / FODAMOS, MEU AMOR, FODAMOS PRESTO, de Pietro Aretino
Fottiamci, vita mia, fottiamci presto,
Poi che per fotter tutti nati siamo,
E se il cazzo ami tu, la potta io bramo,
Chè il mondo saria nullo senza questo.
Se dopo morte il fotter fosse onesto,
Direi: fottiamci tanto che moriamo,
Chè di là fotteremo Eva e Adamo,
Che trovorno il morir sì disonesto.
Veramente egl’è ver che se i furtanti
Non mangiavan quel pomo traditore,
So ben che si fottvano gli amanti.
Ma lasciamo le ciance e sino AL core
Ficchiamo il cazzo e fa che mi si schianti
L’anima, che nel cazzo or nasce or muore
E se possibil fore
Vorrei por nella potta anche i coglioni
D’ogni piacer fottuti testimoni.
Tradução de João Paulo Paes:
Fodamos, meu amor, fodamos presto,
Pois foi para foder que se nasceu,
E se amas o caralho, a cona amo eu;
Sem isto, fora o mundo bem molesto.
Fosse foder após a morte honesto,
“Morramos de foder!” seria o meu
Lema, e Eva e Adão fodíamos por seu
Invento de morrer tão desonesto.
É bem verdade que se esses tratantes
Não comessem do fruto traidor,
Eu sei que ainda fodiam-se os amantes.
Mas caluda e me enfia sem temor
Esse pau que à minha alma, em seus rompantes,
Faz nascer ou morrer, dela senhor.
E se possível for,
Quisera eu pôr na cona estes colhões
Que tanto prazer são espiões.
(Sonetos luxuriosos)
(Ilustração: Andrea Mantegna - Baccanale col tino -1470 ca.)
terça-feira, 18 de julho de 2023
FELIPE DIAZ E O QUADRO DE COURBET, de Jorge Edwards
sábado, 15 de julho de 2023
SOY / SOU, de Gloria Young
Soy recinto
de todas las palabras colgadas en el viento
de la luz que atraviesa mi curva cordillera
de la canción del sueño
del mar con sus espumas
del alma desbocada al filo de una estrella
soy
voz que no se esconde
que explora sus tejidos
que aúlla en el misterio de todos sus silencios
que murmura a la vida
que acecha en la vigília
que da vuelo a la risa venciendo la nostalgia.
Soy agua
de Ia lluvia
del mar
de la tormenta
y busco los tesoros
y lavo
Ias memorias
soy mujer
de este siglo
escalando esperanzas
cabalgando corceles
de amor y de ternura
abriéndome los poros
al olor de las frutas
soltándome el cabello
surcando la dulzura
aquí
en la penumbra
de la
puesta del sol.
Tradução de Antonio Miranda:
Sou o recinto
de todas as palavras penduradas no vento
da luz que atravessa minha curva cordilheira
da canção do sonho
do mar com suas espumas
da alma escancarada no fio de uma estrela
Sou
voz que não se esconde
que explora seus tecidos
que ulula no mistério de todos os silêncios
que murmura à vida
que espreita na vigília
que dá vez ao sorriso vencendo a saudade.
Sou água
de chuva
do mar
da tormenta
e busco os tesouros
lavo
as memórias
sou mulher
deste século
escalando esperanças
cavalgando corcéis
de amor e de ternura
abrindo os poros
ao perfume das frutas
soltando os cabelos
sulcando a doçura
aqui
na penumbra
deste
pôr-do-sol.
(Mujer, Prensa y Poesia, 1993)
(Ilustração:Frida Kahlo - Self Portrait with Bonito)
quarta-feira, 12 de julho de 2023
DO RECENTE MILAGRE DOS PÁSSAROS ACONTECIDO EM TERRAS DE ALAGOAS, NAS RIBANCEIRAS DO RIO SÃO FRANCISCO, de Jorge Amado
domingo, 9 de julho de 2023
DEDICATION FOR A PLOT OF GROUND / CONSAGRAÇÃO DE UM PEDAÇO DE TERRA, de William Carlos Williams
This plot of ground
facing the waters of this inlet
is dedicated to the living presence of
Emily Dickinson Wellcome
who was born in England, married,
lost her husband and with
her five year old son
sailed f or New York in a two-master,
was driven to the Azores;
ran adrift on Fire Island shoal,
met her second husband
in a Brooklyn boarding house,
went with him to Puerto Rico
bore three more children lost
her second husband, lived hard
f or eight years in St. Thomas,
Puerto Rico, San Domingo, followed
the oldest son to New York,
lost her daughter, lost her "baby",
seized the two boys of
the oldest son by the second marriage
mothered them — they being
motherless — fought for them
against the other grandmother
and the aunts, brought them here
summer after summer, defended
herself here against thieves,
storms, sun, fire,
against flies, against girls
that came smelling about, against
drought, against weeds, storm-tides,
neighbors, weasels that stole her chickens,
against the weakness of her own hands,
against the growing strength of
the boys, against wind, against
the stones, against trespassers,
against rents, against her own mind.
She grubbed this earth with her own hands,
domineered over this grass plot,
blackguarded her oldest son
into buying it, lived here fifteen years,
attained a final loneliness and —
If you can bring nothing to this place
but your carcass, keep out.
Tradução de José Paulo Paes:
Este pedaço de terra
defronte às águas do estreito
é consagrado à presença viva de
Emily Dickinson Wellcome
que nasceu na Inglaterra, se casou,
perdeu o marido e com
seu filho de cinco anos
veio para Nova York num navio de dois mastros,
foi bater nos Açores;
vogou a esmo até o baixio de Fire Island,
encontrou o segundo marido
numa pensão do Brooklyn,
foi com ele para Porto Rico
deu à luz mais três filhos, perdeu
seu segundo marido, teve oito anos
de vida dura em St. Thomas,
Porto Rico, São Domingos, acompanhou
o filho mais velho a Nova York,
perdeu sua filha, o seu "bebê",
pegou os dois meninos do
segundo casamento do filho mais velho
serviu-lhes de mãe — deles que eram
órfãos de mãe — lutou por eles
contra a outra avó
e as tias, trouxe-os para cá
verão após verão se defendeu
aqui contra ladrões,
tempestades, sol, incêndio,
contra moscas, moças
que vinham farejar à volta, contra
seca, ervas daninhas, marés de borrasca,
vizinhos, doninhas que lhe roubavam o galinheiro,
contra a fraqueza de suas próprias mãos,
contra a força crescente
dos meninos, contra ventos, contra
pedras, contra os invasores,
contra impostos, contra o seu próprio entendimento.
Cavoucou esta terra com suas próprias mãos,
reinou sobre esta leira de relva,
imprecou o filho mais velho
até que ele a comprasse, viveu aqui quinze anos,
alcançou a solidão definitiva e —
Se não puderes trazer a este lugar
mais do que a tua carcaça, fica longe dele.
(Ilustração: Andrea Kowch, 1986)
quinta-feira, 6 de julho de 2023
MAIS ABEIRA O BRANCO, de Valter Hugo Mãe
segunda-feira, 3 de julho de 2023
LA NOCHE / A NOITE, de Lilian Serpas
Criatura entre otros 'egos' desligada,
la noche, en concreción de lo inconcreto
– al no ser la materia resignada –
cuelga de un mundo en su dolor concreto...
Desnace tras la luz, finge el secreto
de verse en el vacío, cuando nada
– si no la levedad del esqueleto –
la equilibra dejándola creada...
Lo infinitesimal que la descifra,
centra – con voz armonica la cifra,
que a su esférica forma la resuelva...
Y en lo posible, o imposible, vaga
– con sus ojos sin luz – yendo a la zaga
de la inviolable lumbre que: ¡la envuelve...!
Tradução de Wagner Mourão Brasil:
Criatura entre outros ‘egos’ desligada,
a noite, em concreção do não concreto
– ao não ser a matéria resignada –
pende de um mundo em seu sofrer concreto...
Desnace atrás da luz, finge o secreto
de ver-se no vazio, quando nada
– a não ser a leveza do esqueleto –
equilibra-a deixando-a inventada...
O brevíssimo evento que a decifra,
concentra – com voz harmônica a cifra,
que em sua esférica forma a resolve...
E no possível, o impossível, erra
– com seus olhos sem luz – indo à procura
da inviolável fulgência que: a envolve...!
(Ilustração: Artemisia Gentileschi - Sleeping Venus)