Para quem, nos felinos, aprecia,
a beleza, o carisma, o fino trato,
um simples gato pode ser poesia…
Chegando devagarinho,
gato leva o silêncio
ao canto do passarinho.
O amor indiscreto
dos gatos de rua
ofende a pureza da lua?
Na mesa posta,
o gato se lambe
porque se gosta.
Um pulo de gato,
gracioso e exato,
qual verso no ar…
Tapeando a rosa,
o gato antegoza
ciúmes do beija-flor…
O rabo do gato no muro
descreve uma interrogação
que insulta o cachorro no chão.
No rastro do rato,
o gato, sem bulha,
mergulha no mato.
Os olhos do gato preto,
repiscam no negrume,
namorando o vagalume.
Gato gaiato,
bola de pelo,
rola o novelo.
A gata dengosa no cio,
olhando o telhado vazio,
parece gemer sete vidas.
Resta vaga magia
quando o gato afia
as unhas no tapete.
A tarde se fica,
enquanto o gato
dorme na bica.
Na poça de rua,
um gato bebendo
o brilho da lua
Do gato, restou o ronronado;
mas do canário, coitado,
apenas as penas.
No contrazul da janela,
qual nuvem no contravento,
gato branco passa lento…
Um gato vadio
miando no frio:
assim me sinto.
Olhar de gato,
mesmo com sono,
ainda decifra o dono.
Na rua antiga, cena de aquarela,
em cores triviais de tarde morna;
a madorna dum gato na janela.
O olhar da gata persa
conta uma estória inversa
das mil e uma noites.
Um gato pardo de andar
esguio e desafio
no olhar de esfinge.
Por causa dum gato,
sem dono nem sono,
perdi meu sapato.
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