segunda-feira, 19 de setembro de 2022

SONNET XVI / SONETO XVI, de Fernando Pessoa

 





We never joy enjoy to that full point

Regret doth wish joy had enjoyed been.

Nor have the strength regret to disappoint

Recaling not past joy's thought, but its mien.

Yet joy was joy when it enjoyed was

And after-enjoyed when as joy recalled,

I t must have been joy ere its joy did pass

And, recalled, joy still, since its being-past galled.

Alas! All this is useless, for joy's in

Enjoying, not in thinking of enjoying.

Its mere thought-mirroring gainst itself doth sin,

By mere reflecting solid life destroying.

Yet the more thought we take to thought to prove

It must not think, doth further from joy move.



Tradução de Adolfo Casais Monteiro e de Jorge de Sena:



Jamais o gozo goza àquele ponto extremo

Que a saudade requer gozado fosse o gozo,

Nem ela tem poder que fruste o recordar

Não do passado gozo a ideia, mas a imagem

Mas por ter sido gozo quando foi gozado

E ainda post-gozado como tal lembrado,

Gozo teve que ser antes de ser passado

E gozo ao recordar, pois ser passado dói.

Ai ! De que val' tudo isto, já que o gozo está

Não em pensar o gozo mas em só gozá-lo.

Seu refletir-se em ideia contra el' próprio peca

Pois de só refletir destrói a vida solida.

Mas quanto mais pensamos em pensar provar

Não se dever pensar, do gozo mais fugimos.



(35 Sonnets)

(Ilustração: Francesco Hayez, ultimo bacio di Romeo e Giulietta)

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