sábado, 17 de julho de 2021

NOTURNO, de Bruno Tolentino

 



Não sou o que te quer. Sou o que desce

a ti, veia por veia, e se derrama

à cata de si mesmo e do que é chama

e em cinza se reúne e se arrefece.



Anoitece contigo. E me anoitece

o lume do que é findo e me reclama.

Abro as mãos no obscuro, toco a trama

que lacuna a lacuna amor se tece.



Repousa em ti o espanto que em mim dói,

noturno. E te revolvo. E estás pousada,

pomba de pura sombra que me rói.



E mordo o teu silêncio corrosivo,

chupo o que flui, amor, sei que estou vivo

e sou teu salto em mim suspenso em nada.



(Ilustração: Luis Ricardo Falero)




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