domingo, 1 de setembro de 2019

ELEGIA 1.7, de Sexto Propércio







Dum tibi Cadmeae dicuntur, Pontice, Thebae 

….armaque fraternae tristia militiae, 

atque, ita sim felix, primo contendis Homero 

….(sint modo Fata tuis mollia carminibus), 

nos, ut consuemus, nostros agitamus Amores (5) 

….atque aliquid duram quaerimus in dominam; 

nec tantum ingenio quantum seruire dolori 

….cogor et aetatis tempora dura queri. 



Hic mihi conteritur uitae modus, haec mea Fama est, 

….hinc cupio nomen carminis ire mei. (10) 

Me laudent doctae solum placuisse puellae, 

….Pontice, et iniustas saepe tulisse minas; 

me legat assidue post haec neglectus amator, 

….et prosint illi cognita nostra mala. 



Te quoque si certo puer hic concusserit arcu (15) 

….(quam nollim nostros te uiolasse Deos!), 

longe castra tibi, longe miser agmina septem 

….flebis in aeterno surda iacere situ; 

et frustra cupies mollem componere uersum, 

….nec tibi subiciet carmina serus Amor. (20) 

Tum me non humilem mirabere saepe poetam, 

….tunc ego Romanis praeferar ingeniis; 

nec poterunt iuuenes nostro reticere sepulcro: 

….“Ardoris nostri magne poeta, iaces?” 



Tu caue nostra tuo contemnas carmina fastu: (25) 

….saepe uenit magno faenore tardus Amor. 



Tradução de Guilherme Gontijo Flores: 



Enquanto cantas, Pôntico, a Tebas de Cadmo 

….e as armas tristes do fraterno exército 

e — quem dera fosse eu! — competes com Homero 

….(que os Fados sejam leves com teus cantos!); 

eu, como de costume, fico em meus Amores (5)

….e busco combater a dura dona, 

mais escravo da dor do que do meu talento, 

….e lamento o infortúnio desta idade. 



Assim eu passo a vida, assim é minha Fama, 

….aqui desejo a glória do meu canto: (10)

louvado — o único que agrada à moça culta 

….e aguenta injustas ameaças, Pôntico. 

Que amiúde me leia o amante repelido 

….e encontre auxílio ao conhecer meus males. 



Se o menino certeiro também te flechar (15)

….(se ao menos não violasses nossos Deuses!), 

dirás adeus quartéis, adeus aos sete exércitos 

….que jazem surdos no sepulcro eterno 

e em vão desejarás compor suaves versos, 

….pois tardo Amor não te dará poemas. (20)

Então te espantarás: não sou poeta humilde, 

….entre os mais talentosos dos Romanos; 

jovens não poderão calar-se ante meu túmulo: 

….“Grande poeta do nosso ardor, morreste?” 



Evita desprezar meus cantos com orgulho: (25)

….o Amor tardio cobra imensos juros. 



Notas: 

Esta elegia dirigida ao poeta épico Pôntico (que supostamente teria escrito uma Tebaida, cuja referência aparece também em Ovídio, Amores 2.18 e Tristia 4.10.47-8) dialoga diretamente com 1.9, onde vemos que as profecias de Propércio se cumprem. Não obstante, o poema 1.8, que gera um intervalo entre os dois, já foi indicado como configurador de uma tríade entre as elegias 7-8-9, bem representados por Aires A. Nascimento como “a poesia amorosa não deve ser tida em menor conta (7); o seu desprezo leva a resultados funestos (8); a poesia amorosa tem uma função moderadora (9)”. Vale notar como a tópica da utilidade da poesia entra na defesa da elegia contra a épica praticada por Pôntico, o que leva o poema à proposta da elegia como modo de vida. 

v. 2: O fraterno exército nos remete ao combate entre os irmãos Etéocles e Polinices, filhos de Édipo, pelo poder de Tebas, principal assunto dos Sete contra Tebas de Ésquilo e também da Tebaida na versão de Estácio. 

v. 3: Propércio pode referir-se ao fato de que a mais antiga Tebaida era, na Antiguidade, atribuída a Homero, junto com outros poemas do Ciclo Épico de que só nos restaram fragmentos. 

v. 26: A temática do amor tardio que causa mais sofrimento aparece também em Tibulo 1.2.87-8 e Ovídio, Heroides 4.19. 



(Poemas de Sexto Propércio, apresentação, tradução & notas de Guilherme Gontijo Flores) 



(Ilustração: Peinture murale romaine - Scène érotique)



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