quarta-feira, 24 de outubro de 2018

EN SOURDINE / EM SURDINA, de Paul Verlaine








Calmes dans le demi-jour

Que les branches hautes font,

Pénétrons bien notre amour

De ce silence profond.



Fondons nos âmes, nos coeurs

Et nos sens extasiés,

Parmi les vagues langueurs

Des pins et des arbousiers.



Ferme tes yeux à demi,

Croise tes bras sur ton sein,

Et de ton coeur endormi

Chasse à jamais tout dessein.



Laissons-nous persuader

Au souffle berceur et doux

Qui vient à tes pieds rider

Les ondes de gazon roux.



Et quand, solennel, le soir

Des chênes noirs tombera,

Voix de notre désespoir,

Le rossignol chantera.




Tradução de Onestaldo de Pennafort:

Calmo, na paz que difunde

a sombra nos altos ramos,

que o nosso amor se aprofunde

neste silêncio em que estamos.



Coração, alma e sentidos

se confundam com estes ais

que exalam, enlanguescidos,

medronheiros e pinhais.



Fecha os olhos mansamente

e cruza as mãos sobre o seio.

Do teu coração dolente

afasta qualquer anseio.



Deixemo-nos enlevar

ao embalo desta brisa

que a teus pés, doce, a arrulhar,

a relva crestada frisa.



E quando a noite sombria

dos carvalhos for baixando,

o rouxinol a agonia

da nossa alma irá cantando.





Tradução de Guilherme de Almeida:




Calmos, na sombra incolor

Que dos galhos altos vem,

Impregnemos nosso amor

Deste silêncio de além.



Juntemos os corações

E as almas sentimentais

Entre as vagas lassidões

Das framboesas, dos pinhais.



Cerra um pouco o olhar, no teu

Seio pousa a tua mão,

E da alma que adormeceu

Afasta toda intenção.



Deixemo-nos persuadir

Pelo sopro embalador

Que vem a teus pés franzir

As ondas da relva em flor.



A noite solene, então,

Dos robles negros cairá,

E, voz da nossa aflição,

O rouxinol cantará.



(Ilustração: Leonid Afremov – desire)





2 comentários: