domingo, 8 de abril de 2018

A LA ORILLA DEL AGUA ESTANDO UM DIA / À BEIRA D'AGUA ESTANDO CERTO DIA, de Anônimo (século de ouro da literatura espanhola)


 




A la orilla del agua estando um dia,

ajena de cuidado, una hermosa

de mirarse su infierno deseosa,

por verse sola allí sin compañia,



la saya alzó que ver se lo empedía,

y, pegada de ver tan rica cosa,

le dice con voz mansa e amorosa:



"Por vos soy yo de tantos requebrada,

por voz me dan aljorcas, gargantilla,

chapines, saya y manto para el frio,



Um beso quiero darvos," Y abajada

a darle, por estar tan a orilla,

trompicó e cabeça y dio en el rio.



Tradução de José Paulo Paes:



À beira d'agua estando certo dia,

descuidada, uma dama primorosa

de mirar seu inferno desejosa

e vendo-se ali só, sem companhia,



a saia ergueu, que vê-lo lhe impedia

e feliz de ver coisa tão preciosa,

e que de dentro d'alma lhe saía:



"Por vós eu sou de tantos requestada,

por vós me dão colares e pulseira,

sapatos, saia e manto para o frio.



Um beijo quero dar-vos" e abaixada

para o dar escorregou na beira

e de cabeça despencou no rio.




(Ilustração: Edvard Munch - Desnudo femenino de rodillas, 1919)

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