sexta-feira, 17 de junho de 2016

CANTO NUPCIAL , de Ivo Barroso








Agora que estás amadurecida para o amor

e em teu sexo a peregrinação das luas se sucede,

escuta, Amada, o meu canto nupcial.

De tua fronte penderão corimbos,

anêmonas e as últimas pervincas dilatadas em maio;

teus seios recenderão a malvas adormecidas

no sereno das madrugadas suspensas;

uma orquídea equatorial, grande como um símbolo,

cingirás ao ventre

e, em teu sexo nu, a flor estonteante

de tua própria pureza conservada.

Quero-te assim — floral, assim meio bárbara,

que o nosso amor contém um pouco da força dionisíaca

da terra;

e teu ventre redondo — abrigo de sóis —

palpita na esperança genital da espécie.

No chão,

tomando-te os cabelos, ansiosa de meu amor de esposo,

gritarás aos caules que nos cercam,

para as frondes que nos cobrem,

que propício é o tempo de tua flor esmagada

se tornar em fruto.

E rolaremos nos rituais sagrados da progênie:

teus seios — como duas luas gêmeas — crescerão

em suas fases;

teu ventre, penetrado de vida, se distenderá

na lenteza das horas

e o próprio chão em torno se gretará pelas raízes

que emergem sôfregas de ser.




(1952) 


(Ilustração: Alyssa Monks)





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