sexta-feira, 6 de março de 2015

POEMA DE AMOR / POEMA DE AMOR, de Roque Dalton


   





Los que ampliaron el Canal de Panamá
(y fueron clasificados como "silver roll" y no como "golden roll"),
los que repararon la flota del Pacífico
en las bases de California,
los que se pudrieron en las cárceles de Guatemala,
México, Honduras, Nicaragua
por ladrones, por contrabandistas, por estafadores,
por hambrientos
los siempre sospechosos de todo
("me permito remitirle al interfecto
por esquinero sospechoso
y con el agravante de ser salvadoreño"),
las que llenaron los bares y los burdeles
de todos los puertos y las capitales de la zona
("La gruta azul", "El Calzoncito", "Happyland"),
los sembradores de maíz en plena selva extranjera,
los reyes de la página roja,
los que nunca sabe nadie de dónde son,
los mejores artesanos del mundo,
los que fueron cosidos a balazos al cruzar la frontera,
los que murieron de paludismo
o de las picadas del escorpión o la barba amarilla
en el infierno de las bananeras,
los que lloraran borrachos por el himno nacional
bajo el ciclón del Pacífico o la nieve del norte,
los arrimados, los mendigos, los marihuaneros,
los guanacos hijos de la gran puta,
los que apenitas pudieron regresar,
los que tuvieron un poco más de suerte,
los eternos indocumentados,
los hacelotodo, los vendelotodo, los comelotodo,
los primeros en sacar el cuchillo,
los tristes más tristes del mundo,
mis compatriotas,
mis hermamos.



Tradução de Wagner Mourão Brasil:


Os que alargaram o Canal do Panamá
(e foram classificados como "silver roll" e não como "golden roll"), [1]
os que repararam a frota do Pacífico
nas bases navais da Califórnia,
os que apodreceram nos cárceres da Guatemala,
México, Honduras, Nicarágua
como ladrões, como contrabandistas, como caloteiros,
como esfomeados
os sempre suspeitos de tudo
("permito-me remetê-lo ao que morre violentamente
em esquinas suspeitosas
e com o agravante de ser salvadorenho"),
as que lotam os bares e bordeis
de todos os portos e todas as capitais da zona [2]
("La gruta azul", "El Calzoncito", "Happyland"),
os plantadores de milho em plena selva estrangeira,
os reis das notícias sangrentas, [3]
os que nunca sabem de onde são,
os melhores artesãos do mundo,
os que foram costurados à bala ao cruzar a fronteira,
os que morrem de malária,
ou das picadas do escorpião ou da barba amarela [4]
no inferno das bananeras [5]
os que choraram embriagados pelo hino nacional
sob o ciclone do Pacífico ou sob a neve do norte,
os parasitas, os mendigos, os puxadores de fumo,
os guanacos filhos da grande puta, [6]
os que a duras penas puderam regressar,
os que tiveram um pouco mais de sorte,
os eternos ilegais,
os faz-tudo, vende-tudo e come-tudo,
os primeiros a sacar a faca,
os tristes mais tristes do mundo,
meus compatriotas,
meus irmãos.



(Historias Prohibidas de Pulgarcito (1974) - Histórias Proibidas do Pequeno Polegar  - do conto dos Irmãos Grimm. Em El Salvador foi batizado como Pulgarcito pela embaixadora e poeta chilena Gabriela Mistral.)



Notas do tradutor:

 [1] Rol prateado, rol dourado: planilhas de trabalhadores adotadas em empresas norte-americanas da Zona do Canal do Panamá. Os brancos eram listados nas golden rolls; os antilhanos, nas silver rolls, caracterizadas pelas condições inferiores de emprego e salário.
[2] Zona do Canal
[3] Pagina roja (página vermelha): página de jornal em que são noticiados crimes sangrentos.
[4] Conhecida no Brasil como jararaca-do-norte (Bothrops atrox). Cobra venenosa comum na América Latina.
[5] Bananeras: plantações de banana da extinta, e famigerada United Fruit Company, multinacional norte-americana conhecida na América Latina como La Frutera.
[6] Guanaco (animal de carga, parecido com o lhama): gentílico depreciativo para salvadorenho.




(Ilustração: Olga Sinclair - El Lanzador)



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