segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

PIANO, de D. H. Lawrence








Softly, in the dusk, a woman is singing to me;

Taking me back down the vista of years, till I see

A child sitting under the piano, in the boom of the tingling strings

And pressing the small, poised feet of a mother who smiles as she sings.



In spite of myself, the insidious mastery of song

Betrays me back, till the heart of me weeps to belong

To the old Sunday evenings at home, with winter outside

And hymns in the cosy parlour, the tinkling piano our guide.



So now it is vain for the singer to burst into clamour

With the great black piano appassionato. The glamour

Of childish days is upon me, my manhood is cast

Down in the flood of remembrance, I weep like a child for the past.




Tradução de Cecília Rego Pinheiro:




Suavemente, na penumbra, uma mulher canta para mim;

Fazendo-me voltar e descer o panorama dos anos, até que vejo

Uma criança sentada debaixo do piano, na explosão do prurido das cordas

E pressionando os pequenos, suspensos pés de uma mãe que sorri enquanto ela canta.




Apesar de mim, a insidiosa mestria da canção

Atraiçoa-me fazendo-me voltar, até que o meu coração chora para pertencer

Ao antigo entardecer dos domingos em casa, com o inverno lá fora

E hinos na aconchegada sala de visitas, o tinido do piano o nosso guia.




Por isso agora é em vão que a cantora irrompe em clamor

Com o appassionato do grandioso piano negro. A magia

Dos dias infantis está em mim, a minha masculinidade

É desencorajada no fluxo da lembrança, choro como uma criança pelo passado.




(Ilustração: Ceri Richard - la pianiste)






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