quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A LOUCA, de Eliana Iglesias









A louca que se instalou em mim

não é de superfície

e sim das profundas

A louca é por assim dizer

alguém que

as senhoras desviam o olhar,

nas ruas ninguém quer cruzar

e a moral rotula como: “imunda”

A louca que se instalou em mim

não é débil

tampouco passageira

nem gentil, ou bicho, ou gente

Louca sim

Louca, simplesmente

Nenhum parentesco

com normal ou regrado

Quem sabe a encarnação de algum degenerado?

Ou o próprio demônio por mim revisitado?

Essa louca que resiste em mim

tal soldado fedorento na trincheira

a cada madrugada insone

toma-me em fúria

sem trégua

e por inteira

Tão louca, pois que insiste em mim

e que se prega feito parasita

a esta camisola de cetim

Essa mesma louca

que em noites de lua redonda

encharca-me a pele de sexo

e o sexo de gozo

me fazendo hedionda

por matar o que não devo

e que me deixa dividida

alguém que anseia ficar

tendo na boca já o gosto da partida

A louca que habita em mim

não aceita negativas

ou prerrogativas

É senhora absoluta do prazer imediato

Faz-me surda ao que é sensato

e ainda imperiosa

dita-me vozes

como se em mim houvesse, não apenas um

mas, mil algozes

A louca que ora me acompanha

sempre que pode

crava suas garras em minhas entranhas

e as domina como faz o vento

ao deixar a rebentação encapelada

E como esta, me revolto

me bato, me lanço, perfuro, me solto

para depois retomar a mim modificada

Essa louca que me tira do sério

que puxa as cordas da minha vontade

que faz a boca dizer impropérios

e que nunca me leva à saciedade

Essa louca lasciva que explode e... pronto!

Em meio às sombras, exposta ao sol

que não tem hora para aparecer

nem rumo certo a percorrer

Louca desperta, posto que é louca

Louca liberta, posto que é louca

Justamente, a louca

que me faz viver






(Ilustração: Emil Nolde)



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