quinta-feira, 22 de setembro de 2011

TARZAN, de Waldir de Luna Carneiro








Quais os escritores que encantaram a juventude? Júlio Verne? Emílio Salgari? Mayne Reid? Fenimore Cooper com seus moicanos? Edgar Wallace com seus inspetores da Scotland Yard, Sax Rhomer com seu Fu-Manchu e assassinos chineses, Zane Grey com seus pioneiros do oeste ou Karl May com seu índio Winnetou? Entretanto nenhum deles ganhou mais dinheiro do que o criador de Tarzan, que em 1914, deu seu primeiro vagido nas selvas.


C. Riess no seu livro “Best-Sellers”, editora Renes, nos conta que Edgar Rice Burroughs começou escrevendo sobre o planeta Marte: “Dejah Thoris, Princesa de Marte”. O editor deu-lhe alguns dólares pelo original que o deixou entusiasmado. Será assim tão fácil ganhar dinheiro, escrevendo, por que não continuar? Animado, lança um segundo romance marciano, mas alguém lhe dissera para desistir daquela baboseira porque as histórias eram idiotas e seu estilo, detestável. Não se importou, deixou Marte e descobriu um livro de Henry Morton Stanley, “Nos confins da África”, aventuras de um repórter, vivido na tela por Spencer Tracy, que descobre no Congo nada menos que o Dr. David Livingstone, encarnado por Sir Cedrid Hardwick. Quem não se lembra da célebre frase: “Doutor Livignstone, presumo”? Consta que Burroughs se inspirou para escrever as aventuras de Tarzan quando viu um quadro representando Rômulo e Remo sendo amamentados por uma loba. Os críticos diziam que ele ignorava tudo de romance, tinha poucos conhecimentos geográficos e quase nada de gramática. Tarzan apareceu primeiramente na Inglaterra e lá levou as primeiras bordoadas da crítica, porque ele botava tigres na África e a fauna era toda errada, mas o herói personificava o sonho de milhões de leitores. Quando a primeira edição do livro se esgotou, insistiram para que ele continuasse, como aconteceu com Sherlock Holmes, que morreu numa última aventura mas que, atendendo pedidos dos fanáticos leitores, ressuscitou em outra. E logo veio “A volta de Tarzan”; daí por diante não parou mais, foram cinquenta e cinco histórias do homem-macaco e acabou em best-sellers com tiragens de dar inveja a Honoré de Balzac, Agatha Christie, Edgar Wallace, Julio Verne. Dizem que Burroughs teve um começo de vertigem ao ouviu um jornalista dizer que seus milhões de exemplares empilhados ultrapassariam a altura de muitas torres Eiffel, e isso só com as edições norte americanas, das quais Hollywood abocanhou quase tudo, logo depois do advento do cinema falado. O famoso berro que assustava a bicharada seria uma mistura da voz de tenor com a de um contralto e uivos de cães. Um dos entusiastas repórteres de suas aventuras, ao perceber que Tarzan não tinha humor, chamou-o de Hamlet das selvas. Quase todos os jornais do mundo exibiam “tiras” do filho de Lorde Greystoke. No Brasil, encantou a juventude na coleção Terramarear e suplementos dominicais com desenhos de Hal Foster e Rex Maxon. Comentava-se que Burroughs chamava seu escritório de oficina e que lá montava, às pressas, as histórias do filho das selvas. Não gostava de entrevistas. Não se sabe se por blague, ou seriamente, vivia dizendo que para se escrever com sucesso era preciso “ser um homem desiludido e desencorajado; ter malogrado em tudo o que tentou fazer; ter levado uma vida insuportavelmente monótona; estar enjoado da civilização; saber mal a gramática, ler pouco e nunca tratar de assunto do qual entenda alguma coisa”.



É a receita do sucesso.




(Alegro – contos e crônicas)




(Ilustração: capa do livro Tarzan, o filho das selvas)


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