domingo, 21 de agosto de 2011
CARTA À NOIVA, de Olavo Bilac
Excelentíssima Senhora:
Creio que esta carta não poderá absolutamente surpreendê-la. Deve ser esperada. Porque V. Excia. compreendeu com certeza que, depois de tanta súplica desprezada sem piedade, eu não podia continuar a sofrer o seu desprezo. Dizem que V. Excia. me ama. Dizem, porque da boca de V. Excia. nunca me foi dado ouvir essa declaração. Como, porém, se compreende que, amando-me V. Excia., nunca tivesse para mim a menor palavra afetuosa, o mais insignificante carinho, o mais simples olhar comovido? Inúmeras vezes lhe pedi humildemente uma palavra de consolo. Nunca obtive, porque V. Excia. ou ficava calada ou me respondia com uma ironia cruel. Não posso compreendê-la: perdi toda esperança de ser amado. Separemo-nos. Para que hei de eu, que lhe amo tanto, fazer a sua desgraça? É preciso que V. Excia. saiba que a minha vida tem sido um grande combate. Já sofri fome: sobre essa miséria criei a minha independência. Chamaram-me infame: sobre essa afronta criei a minha honestidade. Chamaram-me estúpido: sobre essa injustiça criei o meu talento. E foi sobre esses três alicerces que eu edifiquei o meu orgulho. Amo-lhe tanto, que esta separação há de cedo ou tarde matar-me. Acima, porém, do meu amor está o meu orgulho. Não o quebrei aos pés de meu pai, não o quebraria aos de minha mãe: não posso, nem quero quebrá-lo aos pés de V. Excia. Creio que nos valemos, minha senhora: V. Excia. está muito acima de todas as outras mulheres, mas não está acima de mim. Há de reconhecer que nunca houve um noivado cercado de tanto gelo e de tanta indiferença. Por quê? Talvez porque V. Excia. acredite que os homens devem viver esmagados pelas mulheres. Concordo. Mas isso é bom quando se trata de homens vulgares: e eu não sou um homem vulgar. Quando, pela última vez, nos falamos, eu preveni V. Excia. de que tomaria esta resolução, se não se modificasse o seu modo de proceder. Desta vez, como de todas as outras, ficou V. Excia. impassível. Paciência. Peço, suplico a V. Excia. que me perdoe ter perturbado a tranquilidade de sua existência. Mas eu lhe amava muito, lhe amava como ainda hoje eu lhe amo, e queria, depois de tanta luta e de tanto sofrimento, ter um pouco de felicidade.
Perdoe-me e fique certa de que, para seu sossego, nunca mais me verá.
(Ilustração: Botero - the letter)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Essa carta reflete o sofrimento do autor por ter de terminar seu noivado com uma pessoa que lhe trateva com frieza e falta de amor
ResponderExcluir"Tratava" seria o português correto, senhor Anônimo.
ExcluirCarinhosamente,
CPL.
Boa tarde, mister Preguiçoso! Está faltando o acento agudo na palavra "última" na primeira linha do último parágrafo. Escreva, por obséquio, Vossa Excelência ao invés da abreviação rude, "V. Excia.", ou ao menos coloque uma vírgula após a abreviação.
ResponderExcluirMuito obrigado,
Companhia das Pessoas Letradas.
OI!!!!!!!!!! Por obséquio, não apagar as mensagens da CPL.
ResponderExcluirObrigado pela correção. Apesar do cuidado, sempre escapa algum errinho. Quanto à abreviatura, ela é esdrúxula, sim, mas é a usada pelo A., que preferi respeitar.
ResponderExcluirMais: também respeitei o "lhe amo". Só apagaria (e apagarei) mensagens que contiverem conteúdo ofensivo. Abraços a todos que acompanham o Trapiche dos Outros.
ResponderExcluirObrigado pela atenção.
ExcluirSempre estaremos por perto acompanhando as suas postagens.
Abraços,
CPL.