segunda-feira, 18 de julho de 2016

TO BROOKLYN BRIDGE / À PONTE DE BROOKLYN, de Hart Crane







How many dawns, chill from his rippling rest

The seagull’s wings shall dip and pivot him,

Shedding white rings of tumult, building high

Over the chained bay waters Liberty—




Then, with inviolate curve, forsake our eyes

As apparitional as sails that cross

Some page of figures to be filed away;

—Till elevators drop us from our day ...




I think of cinemas, panoramic sleights

With multitudes bent toward some flashing scene

Never disclosed, but hastened to again,

Foretold to other eyes on the same screen;




And Thee, across the harbor, silver paced

As though the sun took step of thee yet left

Some motion ever unspent in thy stride,—

Implicitly thy freedom staying thee!




Out of some subway scuttle, cell or loft

A bedlamite speeds to thy parapets,

Tilting there momently, shrill shirt ballooning,

A jest falls from the speechless caravan.




Down Wall, from girder into street noon leaks,

A rip-tooth of the sky’s acetylene;

All afternoon the cloud flown derricks turn ...

Thy cables breathe the North Atlantic still.




And obscure as that heaven of the Jews,

Thy guerdon ... Accolade thou dost bestow

Of anonymity time cannot raise:

Vibrant reprieve and pardon thou dost show.




O harp and altar, of the fury fused,

(How could mere toil align thy choiring strings!

Terrific threshold of the prophet’s pledge,

Prayer of pariah, and the lover’s cry,




Again the traffic lights that skim thy swift

Unfractioned idiom, immaculate sigh of stars,

Beading thy path—condense eternity:

And we have seen night lifted in thine arms.




Under thy shadow by the piers I waited

Only in darkness is thy shadow clear.

The City’s fiery parcels all undone,

Already snow submerges an iron year ...




O Sleepless as the river under thee,

Vaulting the sea, the prairies’ dreaming sod,

Unto us lowliest sometime sweep, descend

And of the curveship lend a myth to God.





Tradução de João de Mancelos:




Aurora após aurora, as gaivotas, de asas enregeladas

Pelo ondulante poiso, mergulham e rodopiam,

Derramando brancos anéis de tumulto, exibindo a sua liberdade

Nas alturas, sobre as águas agrilhoadas da baía.



Numa curva imaculada, as aves abandonam os nossos olhos,

Semelhantes ao fantasma de um veleiro que cruza

As facturas, os orçamentos e os balancetes a arquivar;

- A jornada termina e os ascensores libertam-nos do dia...




Sonho com as grandes salas de cinema, a magia panorâmica,

As multidões debruçadas sobre uma qualquer cena cintilante,

Uma profecia nunca revelada, incessantemente revista,

No mesmo écran, pelos espectadores da sessão seguinte.




E Tu, ó Ponte, caminhas sobre o porto, em passos de prata,

Como se o sol te imitasse, sem contudo copiar

O movimento do teu brilhante rasto, -

A tua livre originalidade assim preservada.




Fugido de alguma vigia de metrô, cave ou sótão,

Um lunático precipita-se para os teus parapeitos,

Oscila por um instante, a camisa berrante, enfunada,

Um gracejo tomba dos transeuntes espantados.




Através de Wall Street, dos andaimes até à rua, o meio-dia escorre

Como um rasgão luminoso no acetileno celeste;

Toda a tarde, os guindastes giram entre as nuvens...

Enquanto os teus cabos sorvem a calma do oceano.




A recompensa que ofereces

É tão obscura quanto o paraíso bíblico;

Aqueles que resgatas do anonimato, o tempo jamais destruirá.

Só Tu és senhora da indulgência e do perdão.




Ó harpa e altar em fúria fundidos,

(Como pôde o simples labor humano alinhar a harmonia das tuas cordas)

Terrível limiar da aliança do profeta,

Da oração dos banidos, do pranto dos amantes.




Mais uma vez os faróis dos automóveis deslizam velozes

Pelo teu indiviso idioma, como suspiros estelares, imaculados,

Contas de um rosário que condensa a eternidade.

E contemplamos a noite erguida nos teus braços.




Junto às tuas sombras, encostado aos pilares, eu esperei;

Só na escuridão são claras as tuas trevas.

Os edifícios da cidade, submersos pela neve de mais um ano,

lembram prendas de Natal desembrulhadas.




Insone como o rio que passa sob ti

Cobres o mar e sonhas com a turfa das pradarias.

Vem, ó Ponte, condescende com a nossa humildade,

E da tua curvatura empresta um mito a Deus.





(Ilustração: foto de Carmelo Bayarcal - Brooklyn Bridge, NYC)







Nenhum comentário:

Postar um comentário