quarta-feira, 4 de setembro de 2024

CANTO A ELISA BRANCO, de Lila Ripoll (*)

 




Pesadas grades, hirtas e escuras,

estão paradas

e perfiladas

junto às janelas da cela escura,

que esconde Elisa — a de nome simples,

de nome claro, de nome branco,

a de alma clara.



Passam soldados,

voltam soldados,

e os doces olhos da prisioneira

são águas claras que não se turvam.



Pesadas grades,

hirtas e escuras,

estão paradas e perfiladas

como soldados

junto às janelas.



Elisa Branco

— na cela escura —

está rodeada de pensamentos

puros e claros como seu nome.



Que importam grades junto às janelas?

e esses soldados que passam, passam?

e os sons soturnos

que marcam, marcam

os duros passos das sentinelas?



Elisa Branco sorri e espera.

Não sente o peso de escuras grades,

nem ouve a marcha de duros passos,

que dia e noite,

que noite e dia,

passa e repassa

junto às janelas da cela escura.



Elisa Branco confia e espera —

Elisa simples,

de nome claro,

de nome branco,

de alma clara.



(*) Elisa Branco Batista (Barretos, 29 de dezembro de 1912[ - São Paulo, 8 de junho de 2001) foi uma militante comunista brasileira. Admiradora de Luís Carlos Prestes, filiou-se ao PCB e fez parte da Federação das Mulheres de São Paulo e do Movimento Brasileiro dos Partidários da Paz.


(Ilustração: Frida Kahlo - La Cene)

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