1.
à
consorte-cirurgiã
do cirurgião que estuda
(anatomiza) o
coração das baleias (um raro
hobby lombardo)
pergunto: de que cor é o formidável
balênico
(balordo?)
músculo cardial do
piramídeo monstro?
(montanhosa mole
de carne congelada
que a alfândega libera
- estupefacta!
procedente do mais
interno fundo dos profundos
arcanos equóros da noruega)
2.
responde-me: vermelho-
-escuro tendendo para o roxo
colore nero viola
iodo vinho
tinto arrolhado em
frasco fosco
(estamos em milão:
chove sobre o chiostro verde-
grama
deste palazzo degli ucelli
via capuccio
número (talvez)
dezoito (sulla destra) onde
se comemora o aniversário (compleanno)
refinadíssimo do
padrone della casa
um party ao ar aberto
luz seral
no chiostro retangular
música em surdina
convivas chiachierando
com toques pervasivos
de fellini)
3.
sim - reitera a
cirurgiã-assistente
(cônjuge) toda charme
e ciência:
roxo foncé
- não vermelho vivo
escarlate berrante mas
de um tinto carregado
profundo-escuro-sanguinosa
massa muscular agora
rígida que um dia palpitou sub-
oceânica ou
já emersa do vórtice quando
gigântea rege
o hídrico fluxo do
esguicho d'água
alto arremessando-o contra o céu -
plúmbeo-translúcida
cúpula chuvosa do homérico mar salino -
quando (mamífero prodígio)
a arrogante bucaneira capitânea
se ejeta do centro aquoso
e já respira
4.
roxo-profundo o coração?
(eu aparteando) - pode ser -
do cachalote energumênico ou
o miocárdio (chi lo sà) da
orca feroz que exsurta
pavoneia o seu gáudio turbinoso
- admito:
5.
concordo até
mesmo (ex corde) - mas
o de moby dick
o da baleia branca que navega
- dogaresa
sereníssima -
na paz pelaginosa de seus glaucos
domínios
o coração cetáceo da abadessa
do mar-alto este
só pode ser azul
puro azul pulsante
safira compulsa e celestina
azur
azurro
blau
sky blue
batendo - desdenhoso
do arpão colérico de ahab -
até remergulhando rebater
contra a líquida pretidão onde
afinal se engolfa
(Entremilênios)
(Ilustração: Olena Abakumova - blue whale, 2023)
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