sábado, 20 de agosto de 2016
O DRAMA DE CADA DOIS, de Leon Eliachar
Num país onde o divórcio é
uma perspectiva (*) e o casamento uma falta de perspectiva, a maioria dos
casais sofre problemas os mais disparatados que nem eles próprios conseguem
resolver. Daí apelarem para o bom senso (ou falta de) dos colunistas
especializados em pôr em ordem os distúrbios neurovegetativos de cada um. Como
se vê, o desespero e a falta de preparo emocional para a convivência em comum,
levam os pares humanos a pedir conselhos a pessoas estranhas ao serviço. Essas
receitas apressadas, nem sempre decidem um destino apoiado na insensatez. No
meu caso, sempre achei útil levar minha experiência e o meu profundo
conhecimento dos enguiços da alma até aqueles que precisam de um bisturi moral.
Respondo a essa gente em “curto-circuito”, certo de que encontrarão em minhas palavras
um fusível para os seus casos.
CARTA:
Gostaria muito de conhecê-lo
pessoalmente, é possível? (Paula, ou Paulo – Gávea)
RESPOSTA:
Levei sua carta à farmácia,
pra saber se o seu nome termina com “a” ou com “o”. Não pude saber: deram-me um
remédio e me mandaram tomar de duas em duas horas.
——
CARTA:
Meu marido nunca usou
aliança, desde que nos casamos. (Vladmira — Florianópolis)
RESPOSTA:
O importante no casamento,
Vladmira, não é que o homem use a aliança — é que use a mulher.
——
CARTA:
Sempre que vou à praia, meu
marido exige que eu fique deitada de costas. Resultado: estou com a frente
preta e as costas completamente brancas. O senhor acha isso normal? (Sandrinha
– Guarujá)
RESPOSTA:
Gosto não se discute,
Sandrinha. Vai ver, seu marido gosta de mulher de banda branca.
——
CARTA:
Meu marido deu pra ver
televisão de cabeça pra baixo, preciso tomar uma providência. (Jupira
Nilópolis)
RESPOSTA:
Isso não é tão grave.
Procure ver se a sua tevê está na posição certa. Se não estiver, chame um técnico
pra examinar o aparelho; se estiver, peça ao técnico pra examinar seu marido.
Há maridos que andam com a cabeça virada, às vezes é só trocar uma válvula. Mas
não deixe, em hipótese alguma, levarem seu marido pra oficina: ele voltará pior
do que estava.
——
CARTA:
Minha mulher costuma receber
flores quase diariamente e sempre rasga o cartãozinho sem deixar eu ver de quem
é e coloca as flores numa jarra com todo o carinho. (Augusto – Magé).
RESPOSTA:
Seja sensato: pior seria se
ela rasgasse as flores e colocasse os cartõezinhos na jarra, com carinho.
——
CARTA:
Acordei sobressaltado com os
gritos da minha mulher gritando “fogo! fogo”. Quando abri os olhos, havia um
homem saindo pela janela. (Adalberto Barbacena)
RESPOSTA:
Então, meu caro, é fogo
mesmo.
——
CARTA:
Gravei o sonho do meu marido
e gostaria que o senhor ouvisse. (Iracema – Santos)
RESPOSTA:
Com todo prazer. Mas de
preferência quando ele estiver dormindo.
——
CARTA:
Minha mulher tem ido demais
ao dentista e só chega em casa de noite. Resolvi segui-la e de fato ela estava
no dentista. (Mauro – Sorocaba)
RESPOSTA:
Agora experimente seguir o
dentista.
——
CARTA:
Depois que meu marido
comprou um automóvel nunca mais saiu de casa. (Raquel – Salvador)
RESPOSTA:
Você devia ficar feliz com
isso. Pior se ele comprasse uma casa e nunca mais saísse do automóvel.
——
CARTA:
Contratei um detetive pra
seguir meu marido e comecei a seguir o detetive para ver se de fato ele seguia
meu marido. Um dia encontrei o detetive batendo o maior papo com meu marido.
Devo contratar outro detetive? (Mabel – Petrópolis)
RESPOSTA:
O mais prudente é contratar
outro marido.
——
CARTA:
Tenho sido insistentemente
pedida em casamento, mas não sei se devo aceitar por causa da diferença de
idades: ele tem 42 e eu 18. (Ofélia – São João Del Rei)
RESPOSTA:
A diferença de um homem para
uma mulher não é idade, Ofélia. Medite bem nisso.
——
CARTA:
Minha mulher passa horas no
telefone e nunca me diz com quem está falando. (Fernando – Piracicaba)
RESPOSTA:
Seja homem e tome uma atitude.
Chegue perto de sua mulher e lhe diga frontalmente: “você sabe com quem está falando?
” Depois, prepare-se.
——
CARTA:
Em frente à minha casa,
todas as noites, fica um homem de terno cinza acenando para a minha mulher. Ela
insiste em dizer que se trata de uma estátua e não posso conferir, pois sou
paralítico e ela não me leva até lá. (Zé Eduardo – Volta Redonda)
RESPOSTA:
Sua mulher é muito sensata.
Já imaginou se ela o leva até lá e a estátua sai correndo? Além de paralítico,
você acabaria débil mental.
——
CARTA:
Tenho medo de dormir sozinha
e meu marido trabalha de noite. (Maria Clara – Copacabana)
RESPOSTA:
Ligue para uma dessas
agências de empregados e peça um acompanhante. Eles têm de tudo. Se um dia o
seu marido passar a trabalhar de dia, vai ser o diabo pra se livrar do
acompanhante.
——
CARTA:
Peguei um trem e só quando
cheguei em casa foi que reparei que dentro da minha capa havia um homem.
(Arnalda – Engenho de Dentro)
RESPOSTA:
E o que foi que você fez:
botou a capa no armário, com homem e tudo, ou guardou só a capa? Esse detalhe,
embora não pareça, é muito importante para ajudá-la.
——
CARTA:
Durante o noivado, minha
noiva fazia questão de levar um primo para os nossos programas. Agora, que nos
casamos, ela faz questão que ele venha morar conosco, pois o coitadinho é
órfão. Que acha disso? (Orfeu – Taubaté)
RESPOSTA:
Depende do tamanho do primo.
Se for pequenininho, acho que vai dar muito trabalho a ela. Se for grandinho,
vai dar muito trabalho a você.
——
CARTA:
Há vários anos que meu
marido não me dá um par de sapatos, no entanto troca de carro todos os anos.
(Ariana – Teresópolis).
RESPOSTA:
Há maridos que custam a se
decidir, minha cara. A mulher deve ter paciência. Aguente a mão, ou melhor, aguente
o pé.
——
CARTA:
Minha mulher deu pra
desconfiar de mim, logo agora que vamos completar cinquenta e seis anos de
casados. (Luis Jorge – Encantado)
RESPOSTA:
Já desconfia tarde.
——
CARTA:
Meu psicanalista está doido,
disse que eu precisava me casar com um psicanalista e acontece que já sou
casada com um psicanalista, que é justamente ele. (Beatriz – Niterói)
RESPOSTA:
Então ele demonstrou ser um
ótimo psicanalista e um péssimo fisionomista.
——
CARTA:
Meu farmacêutico é anão e
toda vez que vem me dar injeção, meu marido proíbe. Acha que eu seria capaz de
simpatizar com um anão? (Florilda – Recife)
RESPOSTA:
Não acredito que seu marido
tenha alguma coisa contra o anão. Talvez seja porque ele, ao aplicar a injeção,
não alcance o seu braço.
——
CARTA:
Todas as manhãs, quando abro
o armário, meu terno marrom sai andando e pega o elevador. (Alcinó – Espírito
Santo)
RESPOSTA:
Por enquanto, não há perigo.
Chato vai ser quando seu terno marrom sair e voltar azul.
——
CARTA:
Passei três meses viajando
pra esquecer um homem e agora não me lembro mais quem é ele. (Harilda –
Pelotas)
RESPOSTA:
Faça outra viagem pra ver se
se lembra.
——
CARTA:
Os vestidos de minha mulher
encolheram e ela não manda fazer outros, fica com o busto de fora e não pode
sentar sem mostrar os joelhos. E quer me convencer que está na moda. (Pedrinho
– Brasília)
RESPOSTA:
De uma certa forma, sua
mulher está com a razão: busto e joelho de mulher não caem nunca da moda, pelo
menos enquanto não completam cinquenta anos.
——
CARTA:
Sempre que vou ao cinema com
minha mulher, ela senta em cima e eu embaixo. O senhor acha isso normal?
(Alfredo – São Paulo)
RESPOSTA:
Absolutamente, acho isso
ridículo. E os vaga-lumes, não dizem nada? Se sua mulher é muita pesada, o
lógico seria você sentar em cima.
——
CARTA:
Meu marido passa as noites
escrevendo o seu diário. Mas isso é o de menos, o pior é que costuma escrever
com um garfo. (Ira – Rio)
RESPOSTA:
Consulte um garfologista.
(*)
O divórcio só foi instituído no Brasil em 1977, muito depois desse texto.
(Ilustração:Yves Tanguy)
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