Porque a pedra
está fora do tempo
e eu por dentro;
porque a terra se desata,
vegetal,
e a mim falta
esse fôlego verde,
em tênue movimento;
porque entre raiz e folha
o animal salta,
elástico, e desconheço
liberdade tão alta;
porque mineral e vegetal
uma floresta é segredo
aberto ao animal
e em mim se enlaça
pelos cipós do medo
— sei-me de outra espécie.
Em que sou fraco. E antes
de tudo—breve.
Mas nessa extensão tão plena
é que mais compreendo.
Tomo nos meus braços,
intersubjetivamente,
o espaço total, que conduz o infinito.
E são rochas de leões,
marés de outono,
folhas alçando-se no arrojo
dos pássaros, répteis
em curvas de diamante,
montanhas côncavas, murmurando,
florestas em ondas, sobre as águas
as distâncias são formas
—corpo de estrela, impulso de planície,
a morte é apenas uma flor
vermelha, que passa no vento,
o amor se desvenda nas colheitas,
rostos anônimos surgem
dos troncos de cimento,
a solidão é o rosto da humanidade
a terra é voo, o céu se reaproxima,
e em tudo estou presente, simultâneo,
o horizonte a meus pés,
como um riacho doce.
Olhando dentro de mim,
de dentro da natureza,
eu a refaço—e invento a beleza.
(Ilustração: Helen M. Turner)
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