segunda-feira, 6 de maio de 2013

TODESFUGE/ FUGA DA MORTE, de Paul Celan








Schwarze Milch der Frühe wir trinken sie abends
wir trinken sie mittags und morgens wir trinken sie nachts
wir trinken und trinken
wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland
dein goldenes Haar Margarete
er schreibt es und tritt vor das Haus und es blitzen die Sterne
er pfeift seine Rüden herbei er pfeift seine Juden hervor
läßt schaufeln ein Grab in der Erde
er befiehlt uns spielt auf nun zum Tanz


Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich morgens und mittags wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland
dein goldenes Haar Margarete
Dein aschenes Haar Sulamith
wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng


Er ruft stecht tiefer ins Erdreich ihr einen ihr andern singet und spielt
er greift nach dem Eisen im Gurt er schwingts seine Augen sind blau
stecht tiefer die Spaten ihr einen ihr andern spielt weiter zum Tanz auf


Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags und morgens wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith er spielt mit den Schlangen


Er ruft spielt süßer den Tod der Tod ist ein Meister aus Deutschland
er ruft streicht dunkler die Geigen dann steigt ihr als Rauch in die Luft
dann habt ihr ein Grab in den Wolken da liegt man nicht eng


Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags der Tod ist ein Meister aus Deutschland
wir trinken dich abends und morgens wir trinken und trinken
der Tod ist ein Meister aus Deutschland sein Auge ist blau
er trifft dich mit bleierner Kugel er trifft dich genau
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
er hetzt seine Rüden auf uns er schenkt uns ein Grab in der Luft
er spielt mit den Schlangen und träumet
der Tod ist ein Meister aus Deutschland
dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith

(1947)



Tradução de Modesto Carone:




Leite negro da madrugada nós o bebemos de noite

nós o bebemos ao meio-dia e de manhã nós o bebemos de noite nós o bebemos bebemos

cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado

Um homem mora na casa bole com cobras escreve

escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete

escreve e se planta diante da casa e as estrelas faíscam ele assobia para os seus Mastins

assobia para os seus judeus manda cavar um túmulo na terra

ordena-nos agora toquem para dançar

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite

nós te bebemos de manhã e ao meio-dia nós te bebemos de noite nós bebemos bebemos

Um homem mora na casa e bole com cobras escreve

escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete

Teu cabelo de cinzas Sulamita cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado

Ele brada cravem mais fundo na terra vocês aí cantem e toquem

agarra a arma na cinta brande-a seus olhos são azuis

cravem mais fundo as pás vocês aí continuem tocando para dançar

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite

nós te bebemos ao meio-dia e de manhã nós te bebemos de noite nós bebemos bebemos

um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete

teu cabelo de cinzas Sulamita ele bole com cobras

Ele brada toquem a morte mais doce a morte é um dos mestres da Alemanha

ele brada toquem mais fundo os violinos vocês aí sobem como fumaça no ar

aí vocês têm um túmulo nas nuvens lá não se jaz apertado

Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite

nós te bebemos ao meio-dia a morte é um dos mestres da Alemanha

nós te bebemos de noite e de manhã nós bebemos bebemos

a morte é um dos mestres da Alemanha seu olho é azul

acerta-te com uma bala de chumbo acerta-te em cheio

um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete

ele atiça seus mastins sobre nós e sonha a morte é um dos mestres da Alemanha

teu cabelo de ouro Margarete

teu cabelo de cinzas Sulamita





(Quatro Mil Anos de Poesia)





Tradução de Maria do Sameiro Barroso e Ivo Miguel Barroso:



Leite negro da madrugada bebemo-lo ao entardecer

bebemo-lo ao meio-dia e de manhã bebemo-lo à noite

bebemos e bebemos

cavamos um túmulo nos ares aí ninguém fica apertado

Na casa vive um homem que brinca com serpentes e escreve

escreve quando anoitece para a Alemanha

os teus cabelos de ouro Margarida

escreve e vem para a fora de casa e relampejam as estrelas

assobia pelos seus cães de fila

assobia pelos seus judeus manda cavar um túmulo na terra

ordena-nos tocai agora para a dança



Leite negro da madrugada bebemos-te de noite

bebemos-te de manhã e ao meio-dia bebemos-te ao entardecer

bebemos e bebemos

Na casa vive um homem que brinca com serpentes e escreve

escreve quando anoitece para a Alemanha

os teus cabelos de ouro Margarida

Os teus cabelos de cinza Sulamita

cavamos um túmulo nos ares aí ninguém fica apertado



Ele grita penetrai mais fundo na terra cantai e tocai

agarra no ferro que traz à cintura balança-o os seus olhos são azuis

enterrai mais fundo as pás continuai a tocar e a dançar



Leite negro da madrugada bebemos-te de noite

bebemos-te ao meio-dia e de manhã bebemos-te ao anoitecer

bebemos e bebemos

na casa vive um homem os teus cabelos de ouro Margarida

os teus cabelos de cinza Sulamita ele brinca com serpentes



Ele grita tocai mais docemente a morte a morte é um mestre da Alemanha

Grita arrancai sons mais graves aos violinos depois subireis

em fumo no ar

Tereis então um túmulo nas nuvens aí ninguém fica apertado



Leite negro da madrugada bebemos-te de noite

bebemos-te ao meio-dia a morte é um mestre da Alemanha

bebemos-te ao anoitecer e de manhã bebemos e bebemos

a morte é um mestre da Alemanha o seu olhar é azul

atinge-te com uma bala de chumbo acerta-te em cheio

na casa vive um homem vive os teus cabelos de ouro Margarida

açula contra nós os seus cães de fila oferece-nos um túmulo no ar

brinca com serpentes e sonha – a morte é um mestre da Alemanha

os teus cabelos de ouro Margarida

os teus cabelos de cinza Sulamita.





Tradução de Rafael Rocca dos Santos:




Leite preto da manhã nós o bebemos de noite

nós o bebemos de tarde e de manhã nós o bebemos de madrugada

nós bebemos e bebemos

nós cavamos uma cova nos ares ali não aperta

Um homem mora na casa ele brinca com as serpentes ele escreve ele escreve quando escurece à Alemanha teus cabelos de ouro Margarida ele o escreve e se adianta da casa e brilham as estrelas apita para junto seus cães

ele apita seus judeus para frente manda cavar uma cova na terra ele nos ordena agora toca música

Leite preto da manhã nós te bebemos de madrugada nós te bebemos de manhã e de tarde nós te bebemos de noite

nós bebemos e bebemos

Um homem mora na casa ele brinca com as serpentes ele escreve ele escreve quando escurece à Alemanha teus cabelos de ouro Margarida Teus cabelos de cinza Sulamita nós cavamos uma cova nos ares lá não aperta

Ele grita enfia no solo vós uns e vós outros volta a tocar música ele pega no ferro no cinto ele o agita seus olhos são azuis enfia fundo as pás em vós uns e vós outros volta a tocar música

Leite preto da manhã nós te bebemos de madrugada nós te bebemos de tarde e de manhã nós te bebemos de noite

nós bebemos e bebemos

um homem mora na casa teus cabelos de ouro Margarida

teus cabelos de cinza Sulamita ele brinca com as serpentes

Ele grita brinca mais doce a morte a morte é um mestre da Alemanha ele grita risca os violinos depois vos sobe como fumaça no ar então vós tendes uma cova nas nuvens ali não aperta

Leite preto da manhã nós te bebemos de madrugada nós te bebemos de tarde a morte é um mestre da Alemanha nós te bebemos de noite e de manhã nós bebemos e bebemos a morte é um mestre da Alemanha seu olho é azul ele te acerta com esferas de chumbo ele te acerta em cheio um homem mora na casa teus cabelos de ouro Margarita ele incita seus cães em nós ele nos dá uma cova no ar ele brinca com as serpentes e sonha a morte é um mestre da Alemanha

teus cabelos de ouro Margarida teus cabelos de cinza Sulamita.

 




(Ilustração: Felix Nussbaum - sturm)













Nenhum comentário:

Postar um comentário