sexta-feira, 22 de março de 2013

CANÇÃO, de Emílio Moura






Viver não dói. O que dói
é a vida que se não vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.


Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.


Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.


Viver não dói. O que dói,
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.


Que tudo o mais é perdido.


 (Ilustração: Ada Breedveld)



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