sábado, 25 de fevereiro de 2012

SONETO 228, de Luís de Góngora







Mientras por competir con tu cabello,
oro bruñido al sol relumbra en vano;
mientras con menosprecio en medio el llano
mira tu blanca frente el lilio bello;

mientras a cada labio, por cogello.
siguen más ojos que al clavel temprano;
y mientras triunfa con desdén lozano
del luciente cristal tu gentil cuello:

goza cuello, cabello, labio y frente,
antes que lo que fue en tu edad dorada
oro, lilio, clavel, cristal luciente,

no sólo en plata o víola troncada
se vuelva, mas tú y ello juntamente
en tierra, en humo, en polvo, en sombra, en nada.



Tradução de Delson Tarlé:



Enquanto, a competir com teu cabelo,
o ouro brunido ao Sol reluz em vão
e, pálido de inveja, quedo ao chão,
perde-se a contemplar-se o lírio belo,

e o rubro de teus lábios deixa em zelo
mais olhos do que o cravo temporão,
e o colo altivo traz um ar loução
como o cristal luzente aspira tê-lo;

goza lábios, cabelo, colo albente,
antes que tudo, em tua idade alada
- ouro, lírio, cristal, cravo rubente -

não só se acabe em prata e flor crestada,
mas tu e a tua vida, juntamente,
em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada.



Trad. de Péricles Eugênio da Silva Ramos:



Ora que a competir com teu cabelo
ouro brunhido ao sol reluz em vão,
e com desprezo, no relvoso chão,
vê tua branca fronte o lírio belo;

ora que ao lábio teu, para colhê-lo,
se olha mais do que ao cravo temporão,
e ora que triunfa com desdém loução
teu colo de cristal, que luz com zelo;

colo, cabelo, fronte, lábio ardente
goza, enquanto o que foi na hora dourada
ouro, lírio, cristal, cravo luzente

não só em prata ou víola cortada
se torna, mas tu e isso juntamente
em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada.



(Ilustração: Lucien Freud)



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