sábado, 30 de janeiro de 2016

UN LLORO, UN MORO, UN MICO, I UN SENYOR DE PUERTO RICO, / UM LOURO, UM MOURO, UM MICO E UM SENHOR DE PORTO RICO, de Anônimo catalão do século XIX









Un senyor de Puerto Rico


al balcó tenia un lloro


de rica ploma i bon pico:


un lloro dels que fan oro,


dels lloros que costen pico.


Un veí seu, que era moro,


de Tetuan, va rebre un mico.


Amarra aquest mico, el moro,


al balcó, quedant el lloro


a l’altre, però lluny del mico.


Mes tan i tan xerrà el lloro,


que un dia s’empipa el mico,


i amb rabiós alè de toro


l’embesteix. S’amaga el lloro,


trenca la cadena el mico,


salta a la gàbia del lloro,


surt el lloro, pica al mico,


xiscla el mico, xerra el lloro


i, amb l’esvalot, surt el moro


i el senyor de Puerto Rico.


– Per què no tanca el seu lloro?


– Per què no amarra el seu mico? –


Exclamen els dos fent coro,


volguent l’un agafar el lloro


i estirant-li, l’altre, el mico.


Cau el mico sobre el lloro.


El lloro li clava el pico.


Reganya les dents el mico


i, esbarat, mossega el moro


i el senyor de Puerto Rico.


Aquest renega del lloro,


prometent matar el mico,


mentre que, furiós, el moro


provoca l’amo del lloro


i embesteix a lloro i mico.


Cap amunt s’enfila el lloro,


cap avall s’escorre el mico


i, faltant tots al decoro,


agarrats queden el moro


i el senyor de Puerto Rico.


– ¡Ay, moro, si pierdo el loro!


li diu el de Puerto Rico.


Replica, cremat, el moro:


- Pagaràs ben car el lloro,


oh, cristià!, si es perd el mico.


A dalt l’escarneix el lloro,


a baix, fa mueques el mico,


i no se sap si és el moro


el que parla, o be és el lloro,


o el senyor de Puerto Rico.


Creix el brogit; vola el lloro,


cau al carrer sobre el mico...


Burrango el de Puerto Rico,


veient-se amb perill el lloro,


altre volta sobre el mico!


Es desfà com pot del moro.


Entra i pega un tiro al mico,


però l’erra i mata el lloro.


Cau desmaiat. Riu el moro


i fuig a buscar el mico.


Eixerit, retorna el moro


amb el lloro mort i el mico.


Auxilia el de Puerto Rico...


I després li envia el lloro


amb una carta, pel mico,


que diu: “Seis onzas en oro


per l’atemptat contra el mico,


d’un cristià reclama un moro.


Guardi’s, dissecat, el lloro.


Pagui’m ara, a mi, aquest pico”.


Veu això l’amo del lloro.


Es tira damunt del mico.


Mata el mico, mata el moro,


i, mort moro, mico i lloro,


fa un farcell... i a Puerto Rico!




Tradução de Fábio Aristimunho Vargas:





Um senhor de Porto Rico


na sacada tinha um louro


emplumado e bom de bico:


um louro a peso de ouro,


desses que só compra um rico.


Um vizinho, que era mouro


de Tetuan, ganhou um mico.


Amarra o mico, o mouro,


na sacada, e fica o louro


na outra, bem longe do mico.


Mas tanto gritava o louro


que um dia se irrita o mico,


e enlouquece como um touro


raivoso... Esconde-se o louro,


destrói a corrente o mico,


salta à gaiola do louro,


sai o louro e bica o mico,


grita o mico, grasna o louro


e, com os berros, sai o mouro


e o senhor de Porto Rico.


– Por que não tranca seu louro?


– Por que não prende seu mico?,


reclamam os dois em coro,


querendo um pegar seu louro


e puxando, o outro, seu mico.


Cai o mico sobre o louro.


O louro lhe crava o bico.


Dentes arreganha o mico


e, arrepiado, morde o mouro


e o senhor de Porto Rico


Este renega seu louro,


jurando matar o mico,


enquanto, furioso, o mouro


provoca o dono do louro


e enfurece louro e mico.


Vai, cabeça erguida, o louro;


sai, cabeça baixa, o mico;


e a eles todos o decoro


faltando, atracam-se o mouro


e o senhor de Porto Rico.


– ¡Ay, moro, si pierdo el loro!,


lhe diz o de Porto Rico.


Responde, ultrajado, o mouro:


– Pagará bem caro o louro,


ó cristão, se perco o mico!


Do alto desafia o louro,


faz careta, embaixo, o mico,


e não se sabe se é o mouro


quem fala, ou então se é o louro,


ou o senhor de Porto Rico.


Cresce a zorra; voa o louro,


cai na rua sobre o mico...


Se assusta o de Porto Rico,


ao ver em perigo o louro


novamente pelo mico!


Escapa às pressas do mouro.


Entra e dá um tiro no mico,


porém erra e mata o louro...


Cai desmaiado. Ri o mouro,


que corre buscar seu mico.


Esperto, retorna o mouro


com o louro morto e o mico.


Ajuda o de Porto Rico...


E depois lhe envia o louro,


com uma carta, pelo mico,


que diz: “Seis onças em ouro


pelo ataque contra o mico,


de um cristão exige um mouro.


Guarde, dissecado, o louro.


Mas agora pague o mico”.


Vê isso o dono do louro


e se volta contra o mico.


Mata o mico, mata o mouro.


Mortos mouro, mico e louro,


vai-se embora... a Porto Rico!





(Poesia Catalã, das Origens à Guerra Civil)




(Ilustração: Roger Giménez Tomeo - 2008)



quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A MORTE DE LINDOIA, de Basílio da Gama







(...) na mais remota, e interna
Parte do antigo bosque, escuro e negro,
Onde ao pé de uma lapa cavernosa
Cobre uma rouca fonte que murmura,
Curva latada de jasmins, e rosas.
Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindoia.
Já reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espelhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço, e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira, e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindoia e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açoita o campo coa ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindoia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia
Cheios de morte; e muda aquela língua,
Que ao surdo vento, e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei que de magoado, e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!


(O Uraguai)




(Ilustração: José Maria de Medeiros - Lindóia, 1882)







domingo, 24 de janeiro de 2016

MONÓLOGO, de Novalis






O que se passa com o falar e o escrever é propriamente uma coisa maluca; o verdadeiro diálogo é um mero jogo de palavras. Só é de admirar o ridículo erro: que as pessoas julguem falar em intenção das coisas. Exatamente o específico da linguagem, que ela se aflige apenas consigo mesma, ninguém sabe. Por isso ela é um mistério tão prodigioso e fecundo - de que quando alguém fala apenas por falar pronuncia exatamente as verdades mais esplêndidas, mais originais. Mas se quiser falar de algo determinado, a linguagem caprichosa o faz dizer o que há de mais ridículo e arrevesado. Daí nasce também o ódio que tem tanta gente séria contra a linguagem. Notam sua petulância, mas não notam que o desprezível tagarelar é o lado infinitamente sério da linguagem. Se apenas se pudesse tornar compreensível às pessoas que com a linguagem se dá o mesmo que com as fórmulas matemáticas - elas constituem um mundo por si - jogam apenas consigo mesmas, nada exprimem a não ser sua prodigiosa natureza, e justamente por isso são tão expressivas - justamente por isso espelha-se nelas o estranho jogo de proporções das coisas. Somente por sua liberdade são membros da natureza e somente em seus livres movimentos a alma cósmica se exterioriza e faz delas um delicado metro e compêndio das coisas. Assim também com a linguagem - quem tem fino tato para seu dedilhado, sua cadência, seu espírito musical, quem percebe em si mesmo o delicado atuar de sua natureza interna, e move de acordo com ela sua língua ou sua mão, esse será o profeta; em contrapartida, quem sabe bem disso, mas não tem ouvido ou sentido bastante para ela, escreverá verdades como estas, mas será feito de palhaço pela própria linguagem e escarnecido pelos homens, como Cassandra pelos troianos. Se com isso acredito ter indicado com a máxima clareza a essência, a função da poesia, sei no entanto que nenhum ser humano é capaz de entendê-lo e disse algo totalmente palerma, porque quis dizê-lo, e assim nenhuma poesia resulta. Mas, e se eu fosse obrigado a falar? e se esse impulso a falar fosse o sinal da instigação da linguagem em mim? e minha vontade só quisesse tudo a que eu fosse obrigado, então isso, no fim, sem meu querer e crer, poderia sim ser poesia e tornar inteligível um mistério da linguagem? e então seria eu um escritor por vocação, pois um escritor é bem, somente, um arrebatado da linguagem? 





(Pólen; Fragmentos; Diálogos; Monólogo; tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho)




(Ilustração: Kandinsky - Late)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A MORTE DE MOEMA, de Santa Rita Durão

  





É fama então que a multidão formosa
Das damas, que Diogo pretendiam,
Vendo avançar-se a nau na via undosa,
E que a esperança de o alcançar perdiam:
Entre as ondas com ânsia furiosa
Nadando o Esposo pelo mar seguiam,
E nem tanta água, que flutua vaga,
O ardor que o peito tem, banhando apaga.


Copiosa multidão da nau francesa
Corre a ver o espetáculo assombrada;
E ignorando a ocasião da estranha empresa,
Pasma da turba feminil, que nada.
Uma, que às mais precede em gentileza,
Não vinha menos bela, do que irada;
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.


“Bárbaro (a bela diz:) tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças, amor, que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
Como não consumis aquele infame?
Mas pagar tanto amor com tédio, e asco...
Ah! que o corisco és tu... raio... penhasco!.


Bem puderas, cruel, ter sido esquivo,
Quando eu a fé rendia ao teu engano;
Nem me ofenderas a escutar-me altivo,
Que é favor, dado a tempo, um desengano.
Porém, deixando o coração cativo
Com fazer-te a meus rogos sempre humano,
Fugiste-me, traidor, e desta sorte
Paga meu fino amor tão crua morte?


Tão dura ingratidão menos sentira
E esse fado cruel doce me fora,
Se a meu despeito triunfar não vira
Essa indigna, essa infame, essa traidora.
Por serva, por escrava, te seguira,
Se não temera de chamar senhora
A vil Paraguaçu, que, sem que o creia,
Sobre ser-me inferior, é néscia e feia.


Enfim, tens coração de ver-me aflita,
Flutuar, moribunda, entre estas ondas;
A um ai somente, com que aos meus respondas.
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
Nem o passado amor teu peito incita
(Disse, vendo-o fugir) ah! não te escondas
Dispara sobre mim teu cruel raio...”
E indo a dizer o mais, cai num desmaio.


Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que, irado, freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
- Ah Diogo cruel! - disse com mágoa,-
E sem mais vista ser, sorveu-se na água.


Choraram da Bahia as ninfas belas,
Que nadando a Moema acompanhavam;
E vendo que sem dor navegam delas,
À branca praia com furor tornavam:
Nem pode o claro herói sem pena vê-las,
Com tantas provas, que de amor lhe davam;
Nem mais lhe lembra o nome de Moema,
Sem que amante a chore, ou grato gema.


(Caramuru)



(Ilustração: Victor Meireles; Moema, 1866)






segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A MINHA CAUSA É A CAUSA DE NADA! (*), de Max Stirner






Há tanta coisa a querer a ser a minha causa! A começar pela boa causa, depois a causa de Deus, a causa da humanidade, da verdade, da liberdade, do humanitarismo, da justiça; para além disso, a causa do meu povo, do meu príncipe, da minha pátria, e finalmente até a causa do espírito e milhares de outras. A única coisa que não está prevista é que a minha causa seja a causa de mim mesmo! “Que vergonha, a deste egoísmo que só pensa em si!”

Vejamos então como se comportam com a sua causa aqueles para cuja causa se espera que nós trabalhemos, nos sacrifiquemos e nos entusiasmemos.

Vós que sabeis dizer tanta coisa profunda sobre Deus e durante milênios haveis “sondado os enigmas da divindade” e lhes perscrutastes o âmago, vós sabereis decerto dizer-nos como é que o próprio Deus trata a “causa de Deus”, que nós estamos destinados a servir. E de fato vós não fazeis mistério nenhum do modo como o Senhor se comporta. Qual é então a sua causa? Terá ele, como de nós se espera, feito de uma causa estranha, da causa da verdade e do amor, a sua própria causa? A vós, este mal-entendido causa-vos indignação, e pretendeis ensinar-nos que a causa de Deus é sem dúvida a causa da verdade e do amor, mas que não se pode dizer que esta causa lhe seja estranha, já que Deus é, ele mesmo, a verdade e o amor; a vós, indigna-vos a suposição de que Deus possa, como nós, pobres vermes, apoiar uma causa estranha como se sua fosse. “Como poderia Deus assumir a causa da verdade se ele próprio não fosse a verdade?” Ele só se preocupa com sua causa, mas como é tudo em tudo, e a nossa é bem pequena e desprezível: é por isso que temos de “servir uma causa superior”. Do exposto fica claro que Deus só se preocupa com o que é seu, só se ocupa de si mesmo, só pensa em si e só se vê a si – e ai de tudo aquilo que não caia nas suas graças! Ele não serve nenhuma instância superior e só a si se satisfaz. A sua causa é uma causa... puramente egoísta. 

E que se passa com a humanidade, cuja causa nos dizem que devemos assumir como nossa? Será a sua causa a de um outro, e serve a humanidade um causa superior? Não, a humanidade só olha para si própria, a humanidade só quer incentivar o progresso da humanidade, a humanidade tem em si mesma a sua causa. Para que ela se desenvolva, os povos e os indivíduos têm de sofrer por sua causa, e depois de terem realizado aquilo de que a humanidade precisa, ela, por gratidão, atira-os para a estrumeira da história. Não será a causa da humanidade uma causa... puramente egoísta? 

Nem preciso de demonstrar a todos aqueles que nos querem impingir a sua causa que o que os move são apenas eles mesmos, e não nós, o seu bem-estar, e não o nosso. Olhem só para o resto do lote. Será que a verdade, a liberdade, o humanitarismo, a justiça desejam outra coisa que não seja o vosso entusiasmo para os servir?

Por isso todos se sentem nas suas sete quintas quando zelosamente lhes são prestadas honras. Veja-se o que se passa com o povo, protegido por dedicados patriotas. Os patriotas tombam em sangrentos combates, ou lutando contra a fome e a miséria. E acham que o povo quer saber disso? O povo “floresce” com o estrume dos seus cadáveres! Os indivíduos morreram “pela grande causa do povo”, o povo despede-se deles com umas palavras de agradecimentos e... tira daí proveito. É o que se chama um egoísmo rentável. 

Mas vejam só aquele sultão que tão delicadamente se ocupa dos “seus”. Não será isto o altruísmo em estado puro, não se sacrifica ele hora a hora pelos seus? Exatamente, pelos “seus”. Tenta tu mostrar-te uma vez, não como seu, mas como teu, e vais parar às masmorras por teres fugido ao seu egoísmo. A causa do sultão não é outra senão ele próprio: ele é para si tudo em tudo, é único, e não tolera ninguém que ouse não ser um dos “seus”.

E todos estes brilhantes exemplos não chegam para vos convencer de que o egoísta leva sempre a melhor? Por mim, extraio daqui uma lição: em vez de continuar a servir com altruísmo aqueles grandes egoístas, sou eu próprio o egoísta.

Nada é causa de Deus e da humanidade, nada a não ser eles próprios. Do mesmo modo, Eu sou a minha causa, eu que, como Deus, sou o nada de tudo o resto, eu que sou o meu tudo, eu que sou o único.

Se Deus e a humanidade, como vos assegurais, têm em si mesmos substância suficiente para serem, em si, tudo em tudo, então eu sinto que a mim me faltará muito menos, e que não terei de me lamentar pela minha “vacuidade”. O nada que eu sou não o é no sentido da vacuidade, mas antes o nada criador, o nada a partir do qual eu próprio, como criador, tudo crio.

Por isso: nada de causas que não sejam única e exclusivamente a minha causa! Vocês dirão que a minha causa deveria, então, ao menos ser a “boa causa”. Qual bom, qual mau! Eu próprio sou a minha causa, e eu não sou nem bom nem mau. Nem uma nem outra coisa fazem para mim qualquer sentido. 

O divino é a causa de Deus, o humano a causa “do homem”. A minha causa não é nem o divino nem o humano, não é o verdadeiro, o bom, o justo, o livre etc., mas exclusivamente o que é meu. E esta não é uma causa universal, mas sim... 
única, tal como eu. 

Para mim, nada está acima de mim!



(*) “Ich hab’ mein Sach’ auf nichts gestellt”, literalmente “Fundei a minha causa sobre o nada”, é a primeira linha do poema de Goethe intitulado Vanitas! Vanitatum vanitas!, de 1806.



(O único e a sua propriedade; tradução de João Barrento)



(Ilustração: Keun Chul Jang - Wizard)










sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

MORTE DE MOEMA, de Olga Savary





A tempestade serenara

mas um cruel manitó

sobre o cortejo do vento

cravara a sombra da Morte.

Nem bem o raio da aurora

rasgara o luto do céu

um anhangá ou anhanguera

de luto os ares empanam

dando ao litoral o corpo

da índia que o amor

a vida entrega a Tupã.

Ainda paira a lembrança

dos olhos molhados,

dos seios emersos

e os lábios da jovem

– pelo branco apaixonada,

que enfastiado se vai-

soluçante a implorar

ao indiferente amado:

“Preciso de ti.

Chamei da manhã à noite,

o Sol ouviu-me chamar-te,

a Lua ouviu o teu nome

mas nem assim entendeste,

não atendeste ao chamado,

não pudeste me escutar.”

O barco a afastar-se,

pior que curare,

levou o ingrato

que breve a esqueceu.

Atrás dele nada a índia

até já não ter mais fôlego

e desalentar.

E ouvia-se ainda

num vago murmúrio:

“Eu não te esqueci.”

Sua fala em voz baixa

o mar bravo devora.

Digo-lhe eu, a Autora:

Este amor te mata.

Tudo bem, o amor

é mais forte que o fogo

mais forte que a água,

o homem não destrói

nem pode apagar,

mas este amor te mata.

Repetiam ondas

às conchas de seus ouvidos:

“Te mata, te mata.”

Nadar assim que nem louca

desafia-lhe o limite

e eis os cabelos grossos.

igual crina de cavalo,

nem branca nem negra,

não sorri mais encantada

pra nossos guizos, miçangas,

facas, espelhinhos,

a pele toda pintada

de tinta preta e vermelha

(urucum e jenipapo).




Lentamente e rápido

o Brasil pra trás,

sua pátria agora é o mar.

Carrasca consigo,

mouca, não ouve a ressaca

das grandes massas de água:

está vestida de sonho.

Uma onda mais brava

pode lhe ser colar

ou forca.

De primazia terrestre,

desmancha-se na água

do Mar-Oceano,

Os olhos mortiços

da bela aimoré

(ou tupinambá)

abandonam o sonho

no sonho das águas,

fechando-se ao enleio

de um sono fatal.

Aquela que era moça

no mar vira peixe

mas peixe sem mexer,

peixe que não nada. Nada.

Do mar alto, altas ondas

a tomaram das águas,

espumas a arrebatam

do remoinho das vagas,

dedos ávidos erguiam

este âmbar encharcado

dos cabelos enluarados,

dedos se erguiam de espumas,

espumas cheias de dedos

tal gravura oriental.

Rolando nas ondas

da viva procela

por fim chega à praia

o corpo trigueiro

da índia já morta.

Maré negra veio dar

à praia, fera com ela.

E a praia a recebeu

com toda a fina pompa

das garras brancas.

Agarra-se à índia

a salsugem da praia,

cravando-a na areia.

E ali ela ficou

parada como a sonhar.

A vaga que a trouxe,

sem querer deixá-la,

a nudez lhe afaga

gemendo espumas.

As aves da mata,

crescidas com ela,

emudecem o canto,

chorando-lhe a sorte.

O orvalho da madrugada

alerta vira lágrima

de esperança na face

da jovem afogada.

Do flanco delgado

descera o enduape,

da fronte resvala

o acangatara

e desfazem-se as penas

num rito de dor.

Os cabelos de âmbar

colados à rocha

o rosto da índia

inda tornam mais pálido.

Os braços inertes,

fatal abandono,

suplicam ainda:

“Preciso de ti.”

E eu a Autora,

crítica, lhe digo:

Este amor te mata.

No ar consternado

da praia deserta

agora é só sombra

a natureza

antes em festa

e adeja a gaivota

na orgia da morte.

– Tupã, tu que a amaste,

revive-lhe o riso

que já te prendeu

E vós, ó irmãos,

cessai o festim!

Refreai os golpes

da ivirapema

e o canitar rompei

num rasgo de dor.

Tomai da cauaba

e ao chão atirai

o ardente cauim.

É finda a alegria

e aos pés de Tupã

jaz a taça partida:

sem mais vista, olfato,

audição ou tato,

esplendor da paixão,

Moema está morta.





(Ilustração: escultura de Rodolfo Bernardelli: Moema; foto da internet)















terça-feira, 12 de janeiro de 2016

OS TERRITÓRIOS DA MINHA SEXUALIDADE: VIVENDO FORA DO LÓCUS DO SEXO ROMÂNTICO, de Fernando Dantas Vieira




Terrenos baldios, pontos de ônibus, banheiros públicos, cinemas na Praça da República (uns boxes estranhos), espaços religiosos, transportes coletivos, casas de desconhecidos, ruas escuras, construções abandonadas, casas vazias, praças pela madrugada, matagais, ruelas e vielas escuras pela noite. Alguns poucos motéis. Quando penso nas minhas relações sexuais não posso pensar em outros lugares além destes. Talvez tenha havido algum lugar "normal", mas no geral não. Vivi minha sexualidade em guetos, sombras e perigos.

Nunca frequentei ambientes LGBTs por excelência. Como garoto pobre, que mal tinha dinheiro para a condução, tive de viver meus afetos dentro dos limites que meu olhar me mostrava. Eram estes sempre os espaços públicos. Hoje, olho para estas experiências e penso: " Fernando, você esteve sempre no limiar. No risco do crime homofóbico", se ocorresse, e por diversas vezes poderia ter ocorrido, a culpa não seria minha, de forma alguma. Diferente dos colegas de classe heterossexuais, " levar para meu quarto" nunca foi uma opção. Namorar de mãos dada no sofá, nunca foi uma opção.

Meu desejo era bestial. E para a bestialidade o mundo heterossexista reserva sempre espaços bestiais que precisamos tornar nossos. Espaços à margem, para pessoas marginais. Eis a cartografia do sexo que provei.

Talvez uma cartografia do sexo seja, também, uma cartografia dos sujeitos. Os sujeitos do sexo. No meu caso, eu não era sujeito do meu sexo. Jamais o fui. Eu era objeto, predicado do sexo do outro, geralmente o outro que se identifica como heterossexual e que me pergunta, ao ver-me parado no ponto de ônibus: " Quer chupar rola?", assim, do nada. Não aprendi sobre o valor do meu corpo gay. Aprendi sobre o valor do corpo " deles". Aquele corpo straight, aquele ópio de masculinidade normativa. Aprendi, que aquele corpo era desejável. Aprendi a não dizer-lhe não. Em alguns momentos, não tive nem ao menos tempo para dizer não. Quando me dava conta, a pergunta era simultaneamente acompanhada pelo abrir o zíper e mostrar-me o excitado membro. Jamais disse "não". Eu não podia. Um não provavelmente o enfureceria. E a baixa-estima me dizia: " se não for com esse aí,talvez você, feio assim, não vai ter sexo com ninguém". Eu me rendia.

Aqueles espaços eram também o espaço para ocultar o desejo do corpo straight em ter-me. Não a mim, ali, para aquele corpo straight eu era apenas boca e ouvido, para escutar o que me era dito. Minha boca, não era minha, poderia sempre ser " qualquer boca". Não faria a menor diferença para " eles".

O ativismo LGBT ou o ativismo queer são importantes na conquista de direitos, mas são vitais na conquista da dignidade. Na percepção da dignidade de nossos corpos. Na valorização de nosso " ser". Hoje, digo não, e não tenho medo da reação de ninguém. Digo não e pronto. Minha sexualidade ainda tem uma cartografia, ainda um tanto estranha, mas nesta nova cartografia sou eu o sujeito e não o sujeitado.




(Ilustração: Monica Majoli)




sábado, 9 de janeiro de 2016

В ЛОБ ЦЕЛОВАТЬ – ЗАБОТУ СТЕРЕТЬ / BEIJAR A TESTA - DESPEDIR O PEJO, de Marina Tsvetaeva

  




В лоб целовать – заботу стереть.
В лоб целую.

В глаза целовать – бессонницу снять.
В глаза целую.


В губы целовать – водой напоить.
В губы целую.

В лоб целовать – память стереть.
В лоб целую



5 июня, 1917



Tradução de André Nogueira:



Beijar a testa - despedir o pejo.

E a testa - eu beijo.

Beijar olhos insones – um bocejo.
E os olhos - beijo.


Beijar a boca - embeber.
E eu beijo a boca.

Beijar a testa – esquecer.
E a testa – eu beijo.


5 de Junho, 1917 





(Ilustração: Rafal Olbinski - harpa)






quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

GRANDE SEGREDO, de Jorge de Sena







                                         

Alli me mostrarias


aquello que mi alma pretendia (...)



JUAN DE LA CRUZ - Cântico Espiritual




Fechou a porta da cela atrás de si, e ficou parada, encostada à porta, sentindo a madeira dura na nuca, através do véu. A luz da lamparina no oratório bruxuleava lenta, às vezes crepitante, e espalhava uma claridade a que ela reconhecia, mais que via, a mesa junto da janela com os livros pousados, e o genuflexório, e o catre de tábuas, e as lajes carcomidas. Sabia perfeitamente o que a esperava. Sentira nitidamente, ao levantar-se da ceia, e depois, na igreja, durante as orações, que mais uma vez ia sofrer a visita... Como o corpo se recusava a despegar-se da porta, para ficar desamparado na cela, assim também, mentalmente, as palavras se recusavam a nomear o horror que a esperava. Tremia: a pele, como a memória, retraía-se num palpitar ansioso, de que as mãos já se levantavam num gesto de repulsa. Era superior às suas forças tudo aquilo; não suportava mais. Apetecia-lhe gritar por socorro, rebolar no chão, fugir pelos corredores e pelo campo fora. Tudo seria preferível. Mil vezes ser assaltada por mendigos e leprosos, mil vezes ser violada brutalmente por soldados e bandidos, mil vezes ser vendida como escrava. Mil vezes a repetição de tudo isso que, na sua pregressa vida, conhecera. Mil vezes viver a desgraça que essa vida fora, antes de, como um refúgio enfim conseguido à custa de tanta miséria, se abrirem na sua frente, e se fecharem sobre ela, as portas do mosteiro. Quando, enfim, entrara nele, também como agora se encostara à porta, não a despedir-se do mundo, mas a sentir que tudo ficara lá fora, e ela renasceria, teria finalmente a ressurreição da sua vida que o peso de uma pedra imensa, que era o seu destino, não permitia que surgisse e caminhasse. Mas, ali dentro, e dentro da ressurreição, esperava-a o horror inominável de ser eleita, de ser visitada, de ser mais do que é possível.

Abanou a um lado e outro a cabeça. Não. Não. Por piedade, não. As dores medonhas que sofrera ao ser possuída com violência por um monstro de dimensões incríveis, nada eram a comparar com o que nestes momentos, sucedia no seu espírito. E, no entanto, a semelhança era muita, era tanta, era de mais.

Quando o clarão começou a surgir entre a janela e o oratório, cerrou os olhos, escorregou ao longo da porta, agarrou no rosário e percorreu as contas que lhe fugiram. Não era uma tentação que repelia assim; mas era, como bem sabia, um esforço para que o céu se contentasse com as relações espirituais de uma oração. Todavia, tudo no seu corpo aflito lhe afirmava que seria inútil. O clarão aumentou, como sempre, e, como sempre, mesmo de olhos fechados ela via o perfume da imensidade luminosa que suprimia as paredes da cela e a envolvia numa ternura tépida que lhe doía na medula dos ossos. Também a música, suavíssima, lhe doía assim; e, no entanto, essa música, que, sem ouvir, sentia, não se misturava à claridade, era antes um acompanhamento, um fundo sobre que a luz se tornava mais aberta e mais imensa. Não tardariam as vozes que lhe apertariam todos os recantos do corpo, como tenazes ardentes, ou como lábios, ventosas, línguas.

Num esforço doloroso, abriu os olhos. A claridade enchia a cela toda, e o catre, o oratório, os livros, o genuflexório, a mesa, as portadas da janela, a própria lamparina, tudo flutuava numa ondulação cadenciada, num torvelinho sem peso, e navegava como de velas pandas, e esteiras rebrilhantes sussurravam de todas as coisas como ao longo do casco de um navio.

Agora eram o hábito e o véu, o cilício que trazia à cinta, e o rosário, que, devagarinho, levantavam voo e entravam na sarabanda macia. A brutalidade sufocante e dilacerante penetrava-a já, enquanto o desfalecimento lhe triturava as vísceras e os ossos, Tudo nela se abria e despedaçava, eram milhares de agulhas que a picavam, facas que a rasgavam, colunas que a enchiam, cataratas que a afogavam, chamas que ardiam sobre águas luminosas, cantantes, e pousavam como fogos-fátuos pelo corpo dela. 

Crispando-se numa última recusa, mas ao mesmo tempo cedendo para que aquilo acabasse, inundou-se de uma ardência cristalina, que se esvaía no seu âmago, lá onde a Presença, enchendo-a, martelava os limites dissolvidos da carne. A luz atingiu um brilho insuportável, a música atroava tudo, sentiu-se viscosamente banhada de clamores e apelos que lhe mordiam... E, na treva e no silêncio súbitos, sentiu, nas costas, na nuca e nas pernas, a dureza violenta e fria das lajes em que, do ar, caíra.

Abriu os olhos na escuridão. O corpo dorido e descomposto, o frio e a lamparina que ardia bruxuleante, recordaram-lhe que entrara na cela, mas, com veemência, horror, revoltada humildade, não recordou mais nada. Deixou-se ficar estendida, saboreando uma incomodidade que era exaurido repouso. E começou a ouvir o murmúrio das rezas, a voz da madre abadessa, sussurros que se destacavam e reconhecia.

Leves pancadas soaram na porta, o fecho estalou, e a madre e mais duas entraram recortadas no clarão difuso que vinha do corredor, onde as rezas continuavam. Viu-lhes os hábitos junto do rosto, e as pregas subiam a sumir-se no escuro. Tinham vindo, como sempre, escutar, enciumentas dos favores que acumulavam, apiedadas do sofrimento que lhe cabia em sorte, atraídas e atemorizadas, rezando para a ajudarem e também para participarem daquele clarão sonoro que extravasava pelas frinchas da porta. Quando assim se curvavam para ela, e a levantavam, e carinhosamente a deitavam no catre, e ficavam de joelhos, enchendo a cela e o corredor, rezando com ela, não imaginariam a vergonha imensa que a torturava, ora diversa, ora igual à que sentira quando o emir, no meio da tenda, mandara que a despissem e os soldados, uns após outros, a possuíssem em público. Ela recusara fazer parte, como primeira esposa, do harém, e ele, que a estimava e preferia, e a comprara aos piratas e a trouxera com requintes de delicadeza, mandara que os eunucos a estendessem no divã e a segurassem.

Deitada no catre, de olhos fechados, apagou da memória todas as recordações. Sentia-se descer lentamente, num poço sombrio e úmido, sem fundo. Nem a presença delas, nem as vozes delas, nada podiam contra a solidão e o silêncio. Era este o momento que, afinal, mais temia. Era nestes momentos que, bem sabia, ela consentia na visita próxima, cedia antecipadamente ao apelo e à luz, quando viessem. No dia seguinte, pela madrugada, após um sono pétreo, tudo teria passado. As outras irmãs cruzariam por ela, saudando-a com deferência, trocando ou tentando trocar um olhar comovido, um sorriso amável. A abadessa chamá-la-ia para conversar de coisas correntes, de notícias dos exércitos e dos parentes, dos combates em Jerusalém, e do Santo Sepulcro. E subitamente, na cela, no claustro, no jardim, na adega, quando estivesse só, amanhã mesmo, daqui a um mês, de dia ou de noite, tudo se repetia e recomeçava. É certo que, por mais que fizesse, ocasiões havia em que se afastavam dela as outras, a deixavam só, como se a propiciarem a repetição de acontecimentos que eram honra do convento. E grandes senhores ou pobres mendigos vinham para tentar vê-la, através das grades do coro, ou pediam para que ela os tocasse. A abadessa arrastá-la-ia, de olhos fechados, pegar-lhe-ia na mão, que enfiaria pelas grades, e ela sentiria que lhe choravam nela e lha babavam de beijos. A própria abadessa, trazendo-a em silêncio de volta ao claustro, lhe limparia a mão.

Recolheu sobre o seio a mão que pendia para fora do catre, e agora lhe beijavam. Suspirou. Dentro dos olhos fechados, viu o crucifixo que havia na igreja da sua terra natal, lá longe, há tanto tempo, nos confins da Europa. Foi uma surpresa esquisita que a percorreu trémula da cabeça aos pés. Nunca mais o revira, nem o recordara sem o rever, nem sequer no espírito lhe passara a lembrança, não reconhecida de lembrar-se dele. A imagem sorria para ela, e então ela, menina olhando em volta para verificar se estava só, erguera a mão para o cendal que o cingia, e tentara levantá-lo para espreitar. Porque ele não podia deixar de ser como os outros homens. Mas o cendal, que parecia de tão fina e leve seda, era esculpido na madeira, e ela baixara tristemente a mão, sentindo que a curiosidade lhe fora castigada.

Abriu os olhos, e viu que estava só. Uma paz, uma tranquilidade, uma saciedade que não estava nela, mas no ar que a rodeava, deslaçavam-lhe as derradeiras crispações do corpo contuso. Ainda, mas muito distantes, sentia dores dispersas, ou localizadas onde a violência fora maior. Mas o bem-estar era enorme e contraiu-lhe os lábios num sorriso. O grande segredo, agora sabia o grande segredo. E adormeceu.

O clarão recomeçou a encher a cela, mas não aumentou mais, nem ressoava. Antes ficou em torno dela, como um dossel, uma atenta e vigilante ternura, que, debruçada sobre ela, a contemplasse, tão dorida e apagada, a respirar tranquila.



Araraquara, 2 de Setembro de 1960







(Novas Andanças do Demónio; Antologia do Conto Português - organização, prefácio e notas de João de Melo) 







(Ilustração: Felicien Rops - calvary)