segunda-feira, 13 de maio de 2024

ODE TO A NIGHTINGALE / ODE A UM ROUXINOL, John Keats

 





My heart aches, and a drowsy numbness pains

My sense, as though of hemlock I had drunk,

Or emptied some dull opiate to the drains

One minute past, and Lethe-wards had sunk:

‘Tis not through envy of thy happy lot,

But being too happy in thine happiness,—

That thou, light-winged Dryad of the trees

In some melodious plot

Of beechen green, and shadows numberless,

Singest of summer in full-throated ease.



O, for a draught of vintage! that hath been

Cool’d a long age in the deep-delved earth,

Tasting of Flora and the country green,

Dance, and Provençal song, and sunburnt mirth!

O for a beaker full of the warm South,

Full of the true, the blushful Hippocrene,

With beaded bubbles winking at the brim,

And purple-stained mouth;

That I might drink, and leave the world unseen,

And with thee fade away into the forest dim:



Fade far away, dissolve, and quite forget

What thou among the leaves hast never known,

The weariness, the fever, and the fret

Here, where men sit and hear each other groan;

Where palsy shakes a few, sad, last gray hairs,

Where youth grows pale, and spectre-thin, and dies;

Where but to think is to be full of sorrow

And leaden-eyed despairs,

Where Beauty cannot keep her lustrous eyes,

Or new Love pine at them beyond to-morrow.



Away! away! for I will fly to thee,

Not charioted by Bacchus and his pards,

But on the viewless wings of Poesy,

Though the dull brain perplexes and retards:

Already with thee! tender is the night,

And haply the Queen-Moon is on her throne,

Cluster’d around by all her starry Fays;

But here there is no light,

Save what from heaven is with the breezes blown

Through verdurous glooms and winding mossy ways.



I cannot see what flowers are at my feet,

Nor what soft incense hangs upon the boughs,

But, in embalmed darkness, guess each sweet

Wherewith the seasonable month endows

The grass, the thicket, and the fruit-tree wild;

White hawthorn, and the pastoral eglantine;

Fast fading violets cover’d up in leaves;

And mid-May’s eldest child,

The coming musk-rose, full of dewy wine,

The murmurous haunt of flies on summer eves.



Darkling I listen; and, for many a time

I have been half in love with easeful Death,

Call’d him soft names in many a mused rhyme,

To take into the air my quiet breath;

Now more than ever seems it rich to die,

To cease upon the midnight with no pain,

While thou art pouring forth thy soul abroad

In such an ecstasy!

Still wouldst thou sing, and I have ears in vain—

To thy high requiem become a sod.



Thou wast not born for death, immortal Bird!

No hungry generations tread thee down;

The voice I hear this passing night was heard

In ancient days by emperor and clown:

Perhaps the self-same song that found a path

Through the sad heart of Ruth, when, sick for home,

She stood in tears amid the alien corn;

The same that oft-times hath

Charm’d magic casements, opening on the foam

Of perilous seas, in faery lands forlorn.



Forlorn! the very word is like a bell

To toll me back from thee to my sole self!

Adieu! the fancy cannot cheat so well

As she is fam’d to do, deceiving elf.

Adieu! adieu! thy plaintive anthem fades

Past the near meadows, over the still stream,

Up the hill-side; and now ‘tis buried deep

In the next valley-glades:

Was it a vision, or a waking dream?

Fled is that music:—Do I wake or sleep?



Tradução de Augusto de Campos:



Meu peito dói; um sono insano sobre mim

Pesa, como se eu me tivesse intoxicado

De ópio ou veneno que eu sorvesse até o fim,

Há um só minuto, e após no Letes me abismado:

Não é porque eu aspire ao dom de tua sorte,

É do excesso de ser que aspiro em tua paz –

Quando, Dríade leve-alada em meio à flora,

Do harmonioso recorte

Das verdes árvores e sombras estivais,

Lanças ao ar a tua dádiva sonora.



Ah! um gole de vinho refrescado longamente

Na solidão do solo muito além do chão,

Sabendo a flor, a seiva verde e a relva quente,

Dança e Provença e sol queimando na canção!

Ah! uma taça de luz do Sul, plena e solar,

Da fonte de Hipocrene enrubescida e pura,

Com bolhas de rubis à beira rebordada

Nos lábios a brilhar,

Para eu saciar a sede até chegar ao nada

E contigo fugir para a floresta escura.



Fugir e dissolver-me, enfim, para esquecer

O que das folhas não aprenderás jamais:

A febre, o desengano e a pena de viver

Aqui, onde os mortais lamentam os mortais;

Onde o tremor move os cabelos já sem cor

E o jovem pálido e espectral se vê finar,

Onde pensar é já uma antevisão sombria

Da olhipesada dor,

Onde o Belo não pode erguer a luz do olhar

E o Amor estremecer por ele mais que um dia.



Adeus! Adeus! Eu sigo em breve a tua via,

Não em carro de Baco e guarda de leopardos,

Antes, nas asas invisíveis da Poesia,

Vencendo a hesitação da mente e os seus retardos;

Já estou contigo! suave é a noite linda,

Logo a Rainha-Lua sobe ao trono e luz

Com a legião de suas Fadas estelares,

Mas aqui não há luz,

Salvo a que o céu por entre as brisas brinda

Em meio à sombra verde e ao musgo dos lugares.



Não posso ver as flores a meus pés se abrindo,

Nem o suave olor que desce das ramagens,

Mas no escuro odoroso eu sinto defluindo

Cada aroma que incensa as árvores selvagens,

A impregnar a grama e o bosque verde-gaio,

O alvo espinheiro e a madressilva dos pastores,

Violetas a viver sua breve estação;

E a princesa de maio,

A rosa-almíscar orvalhada de licores

Ao múrmuro zumbir das moscas do verão.



Às escuras escuto; em mais de um dia adverso

Me enamorei, de meio-amor, da Morte calma,

Pedi-lhe docemente em meditado verso

Que dissolvesse no ar meu corpo e minha alma.

Agora, mais que nunca, é válido morrer,

Cessar, à meia-noite, sem nenhum ruído,

Enquanto exalas pelo ar tua alma plena

No êxtase do ser!

Teu som, enfim, se apagaria em meu ouvido

Para o teu réquiem transmudado em relva amena.



Tu não nasceste para a morte, ave imortal!

Não te pisaram pés de ávidas gerações;

A voz que ouço cantar neste momento é igual

À que outrora encantou príncipes e aldeões:

Talvez a mesma voz com que foi consolado

O coração de Rute, quando, em meio ao pranto,

Ela colhia em terra alheia o alheio trigo;

Quem sabe o mesmo canto

Que abriu janelas encantadas ao perigo

Dos mares maus, em longes solos, desolado.



Desolado! a palavra soa como um dobre,

Tangendo-me de ti de volta à solidão!

Adeus! A fantasia é véu que não encobre

Tanto como se diz, duende da ilusão.

Adeus! Adeus! Teu salmo agora tristemente

Vai-se perder no campo, e além, no rio silente,

Nas faldas da montanha, até ser sepultado

Sob o vale deserto:

Foi só uma visão ou um sonho acordado?

A música se foi – durmo ou estou desperto?




(Ilustração: Mikhail Vasilevich Nesterov - The Nightingale is Singing)

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