quarta-feira, 9 de março de 2016

O PÁLIDO PONTO AZUL, de Carl Sagan






O Pálido Ponto Azul é uma fotografia do planeta Terra tirada pela nave espacial Voyager 1 em 14 de fevereiro de 1990, quando ela se encontrava a 6 bilhões de quilômetros da Terra, saindo dos limites do sistema solar. Na fotografia, o tamanho aparente da Terra é menor que o de um pixel, e assemelha-se a um minúsculo ponto contra a vastidão do espaço.

Aquilo lá é aqui. Aquela é nossa casa. Aquilo somos nós.

Nela, todos os que você amou, todos os que você conhece, todos de quem você sempre ouviu falar, todos os seres humanos que já existiram viveram suas vidas. O conjunto de nossas alegrias e sofrimentos, as incontáveis e confiantes religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, todos os heróis e covardes, todos os criadores e destruidores de civilizações, todos os reis e camponeses, todos os jovens casais que se amam, todos os pais e mães, as crianças otimistas, os inventores e exploradores, todos os professores de moral, todos os políticos corruptos, todas as celebridades, todos os líderes supremos, todos os santos e pecadores da História de nossa espécie viveram lá - naquele grão de poeira suspenso num raio de sol.

A Terra é um palco muito pequeno numa imensa arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramado por todos os generais e imperadores para que em glória e triunfo pudessem ser os senhores efêmeros de uma fração de um ponto. Pense nas infindáveis crueldades afligidas pelos habitantes de um canto desse pixel aos quase indistinguíveis habitantes de algum outro canto. Quão frequentes seus desentendimentos, quão ávidos eles são em se matarem uns aos outros, quão fervorosos seus ódios. Nossas atitudes, nossa pretensa presunção, a ilusão de que ocupamos uma posição privilegiada no Universo, tudo isso é questionado por esse ponto de luz pálida. Nosso planeta é um minúsculo ponto solitário na grande escuridão cósmica que nos envolve. Em nossa obscuridade - em meio a toda essa vastidão - não há indício de que de algum lugar virá o socorro que nos salve de nós mesmos.

A Terra é o único mundo conhecido até agora que abriga a vida. Não há nenhum outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Habitar, ainda não. Goste-se ou não, por enquanto a Terra é onde nós estamos para o que vier. Já se disse que a Astronomia é uma experiência formadora do caráter e da humildade. Talvez não haja melhor comprovação da insensatez das vaidades humanas do que essa imagem do nosso minúsculo mundo. A meu ver ela realça nossa responsabilidade de nos relacionarmos com mais gentileza uns com os outros, de preservar e amar o pálido ponto azul, o único lar que sempre conhecemos.



(Tradução de Wagner Mourão Brasil)



(Ilustração: Earth from space - NASA - moon in background: preferimos esta ilustração, porque a foto a que se refere o texto, embora magnífica, quando em alta resolução, aqui seria apenas um borrão negro com minúsculos pontinhos brilhantes).



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