segunda-feira, 24 de agosto de 2020

BLASON DU BEAU TÉTIN / A BELA TETA, de Clément Marot



Tetin refaict, plus blanc qu’un oeuf,

Tetin de satin blanc tout neuf,

Tetin qui fait honte à la rose,

Tetin plus beau que nulle chose ;

Tetin dur, non pas Tetin, voyre,

Mais petite boule d’Ivoire,

Au milieu duquel est assise

Une fraize ou une cerise,

Que nul ne voit, ne touche aussi,

Mais je gaige qu’il est ainsi.

Tetin donc au petit bout rouge

Tetin qui jamais ne se bouge,

Soit pour venir, soit pour aller,

Soit pour courir, soit pour baller.

Tetin gauche, tetin mignon,

Tousjours loing de son compaignon,

Tetin qui porte temoignaige

Du demourant du personnage.

Quand on te voit il vient à mainctz

Une envie dedans les mains

De te taster, de te tenir ;

Mais il se faut bien contenir

D’en approcher, bon gré ma vie,

Car il viendroit une aultre envie.

O tetin ni grand ni petit,

Tetin meur, tetin d’appetit,

Tetin qui nuict et jour criez

Mariez moy tost, mariez!

Tetin qui t’enfles, et repoulses

Ton gorgerin de deux bons poulses,

A bon droict heureux on dira

Celluy qui de laict t’emplira,

Faisant d’un tetin de pucelle

Tetin de femme entiere et belle.



Tradução de David Mourão-Ferreira:



Teta perfeita, branca como um ovo,

Teta de cetim feita, cetim novo,

Teta da qual a rosa tem vergonha,

Teta melhor que tudo o que se sonha,

Teta dura, nem teta, mas enfim



Comparável a bola de marfim,

E no centro da qual somente esteja

Um rubi de morango ou de cereja

Que ninguém vê nem toca por enquanto,

Mas que aposto ser tal como eu o canto:



Teta de bico pois tão encarnado

Que parece por agora sossegado,

Quer ela vá correndo ou vá andando,

Quer ela vá partindo ou vá saltando:

Teta do lado esquerdo, tão matreira,

Sempre longe da sua companheira,

Teta que és testemunha e viva imagem

De compostura tal da personagem

Que só de ver-te assim como te vejo

Nasce dentro das mãos este desejo

De toda te palpar e possuir:

Mas é preciso eu próprio me impedir

De mais me aproximar, pois não duvido

Depois desse desejo outro surgido…

Ó teta nem modesta nem vistosa,

Teta madura, teta apetitosa,

Teta que noite e dia ouço gritar:

“Depressa me casai, quero casar!”



Com justiça, feliz se vai dizer

Aquele que de leite te há-de encher,

Fazendo de uma teta de donzela

Teta de dona inteiramente bela.



(Ilustração: Pietro di Cosimo - c. 1520: Simonetta Vespucci)


Nenhum comentário:

Postar um comentário