quinta-feira, 30 de setembro de 2021
A VIDA SEXUAL DE CATHERINE M., de Mario Vargas Llosa
segunda-feira, 27 de setembro de 2021
THE NEW COLOSSUS / O NOVO COLOSSO, de Emma Lazarus (*)
Not like the brazen giant of Greek fame,
With conquering limbs astride from land to land;
Here at our sea-washed, sunset gates shall stand
A mighty woman with a torch, whose flame
Is the imprisoned lightning, and her name
Mother of Exiles. From her beacon-hand
Glows world-wide welcome; her mild eyes command
The air-bridged harbor that twin cities frame.
“Keep, ancient lands, your storied pomp!” cries she
With silent lips. “Give me your tired, your poor,
Your huddled masses yearning to breathe free,
The wretched refuse of your teeming shore.
Send these, the homeless, tempest-tost to me,
I lift my lamp beside the golden door!”
Tradução de autoria não identificada:
Não como a fama do gigante de Bronze, da Grécia,
com suas pernas conquista, espaçadas, todas as terras,
aqui em nossos portais lavrados pelo pôr-do-sol marinho,
uma mulher poderosa, com uma tocha, cuja flama
é o relâmpago aprisionado, e seu nome, mãe de todos os Exílios.
De seu punho farol brilha a acolhida abrangente,
seus olhos meigos, comandam.
O porto, estendido nas alturas emoldurado pelas cidades gêmeas
"Guarde terras ancestrais, com sua pompa histórica!",
grita ela com lábios silenciosos, "Deem-me os cansados,
os pobres, suas massas apinhadas,
que anseiam por respirar em liberdade.
A recusa desventurada de seu porto abundante
envia a mim esses desabrigados assolados pela tempestade.
Ergo meu tocheiro ao lado do Portão Dourado.
Tradução de Ivan Eugênio da Cunha:
Não como a estátua audaz de grega fama,
Com pernas entre terras estendidas;
O nosso portão d'água se confia
À dama poderosa cuja chama
Altívola é farol e que se aclama
A Mãe dos Exilados; à que inspira,
Co'a tocha erguida, vasta boas vindas
E ao porto, deste irmão, lança esperança.
"Terra ancestral, retenha seu orgulho!"
Diz suavemente. "Dê-me seus cansados,
Suas massas sedentas de ar puro,
Miseráveis nas costas entulhados.
Entregue-os para mim, os moribundos,
Minha luz mostrará o portão dourado!"
Tradução de Nuno Guerreiro Josué:
Não como o gigante bronzeado de grega fama,
Com pernas abertas e conquistadoras a abarcar a terra
Aqui nos nossos portões banhados pelo mar e dourados pelo sol, se erguerá
Uma mulher poderosa, com uma tocha cuja chama
É o relâmpago aprisionado e seu nome
Mãe dos Exílios. Do farol de sua mão
Brilha um acolhedor abraço universal; Os seus suaves olhos
Comandam o porto unido por pontes que enquadram cidades gémeas.
“Mantenham antigas terras sua pompa histórica!” grita ela
Com lábios silenciosos “Dai-me os seus fatigados, os seus pobres,
As suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade
O miserável refugo das suas costas apinhadas.
Mandai-me os sem abrigo, os arremessados pelas tempestades,
Pois eu ergo o meu farol junto ao portal dourado.
Tradução de Margarida Vale de Gato:
Não tal gigante — o de bronze e grega fama,
Cujas pernas se firmam sobre duas terras;
Aqui, onde o Sol desce e o mar se quebra,
Ao nosso portão rubro uma mulher inflama
O raio aprisionado. E ela se proclama
A mãe dos exilados; um facho enverga
Que acolhe o mundo inteiro; os brandos olhos ergue
À ponte que no porto dupla urbe irmana.
“Guardai, terras antigas, vossa intacta glória!”
É o que, muda, grita: “A mim! Pobres, estafados,
Massas aflitas que almejam liberdade,
Os que as vossas costas lançam como escória,
Os sem-abrigo que escorraça a tempestade,
A eles estendo a luz nestes portões dourados!”
(*) Poema inscrito aos pés da estátua da Liberdade. O título e as duas primeiras linhas referenciam o Colosso de Rodes, considerado uma das Sete maravilhas do mundo. A linha "your huddled masses" ("suas massas encurraladas") é em referência aos imigrantes que chegavam aos Estados Unidos pelo porto de Nova Iorque, normalmente na Ilha Ellis.
(Ilustração: Edward Moran - A estátua da Liberdade iluminando o mundo – 1886)
sexta-feira, 24 de setembro de 2021
SEXO NA SENZALA: CASA-GRANDE & SENZALA ENTRE O ENSAIO E A AUTOBIOGRAFIA?, de Roberto Ventura
terça-feira, 21 de setembro de 2021
BAÚ VELHO, de Farias de Carvalho
No baú velho do inconsciente
mexendo papéis antigos
achei um mapa de sonhos.
Pedi emprestado ao tempo
as minhas mãos de menino,
sentei num chão de memórias
cruzei as pernas cansadas
abri a caixa de armar
falei de novo com o tempo
pedi as pedras esparsas
juntei o quebra-cabeça
bati o pó e a saudade
e comecei a jogar.
Num balet de simetria
as minhas mãos de menino
foram reconstruindo
em sonho, mapa e distância
a geografia física da infância:
Ladeira do Mercado, pedras soltas,
o mundo todo girando, rodando e rebolando
dentro da meia rasgada;
quebrando vidraças, subindo as calçadas,
o mundo todo, inteirinho,
amassado, sacudido
debaixo dos pés do time.
Trapiche antigo, molecada nua,
dos Barés, da Miranda, dos Andradas,
até os moleques que moravam mesmo
num batente qualquer - de qualquer rua.
Saltos ligeiros, corpos gotejando
pingos de rio e pingos de desejos:
fúria que vinha inconsciente e pura
nas estranhas e novas sensações
das primeiras nervosas ereções.
Quintal cheio de sol
linha zero esticada
mão ligeira melada
espalhando cerol.
Banda de asa no ar,
braços fortes colhendo.
Rabo e linha, quedooo!
bota outro medroso...
Velha praça da Igreja dos Remédios
do Monsenhor Oliveira e do Mané Sacristão;
missa chata aos domingos, logo de madrugada,
- as beatas rezando sempre a mesma oração.
Mané doido mascando
Monsenhor celebrando
os moleques roubando
o vinho e o sagrado pão.
Mas, estão faltando pedras,
como é que eu vou trabalhar?
As mãos tristes do menino
estão querendo parar
- cansadas de tentativas
cansadas de jogo inútil.
Acho que o quebra-cabeça
vai ficar mesmo incompleto.
Sempre um espaço a sobrar,
sempre uma pedra a faltar.
As mãos gastas do menino
já não podem continuar.
Estão paradas no tempo
cheias de pedras lisas,
de pedras feitas de nada
que não servem para jogar.
Estão paradas no tempo!
Ah! Tempo, tempo malvado,
tempo, você me enganou:
Pedi o jogo emprestado
pedi as mãos de menino
mas juro que não sabia
que você empresta sempre
cobrando um juro tão alto!
Vou fechar meu baú velho.
Carregue as caixas de armar.
- Leve as ruas, leve os dados,
leve as pontes, leve as bolas,
leve as torres dos castelos,
leve tudo, tempo, leve.
Só quero que você deixe,
impressas aqui neste mapa
de sonhos e de lembranças
as mãos gastas do menino
que já estão ficando longe
sujas de ocasos de infância
sujas de você também.
Mas não me cobre este juro,
você sabe muito bem
que eu já não sei mais chorar!
(Pássaro de cinza)
(Ilustração: Cândido Portinari - crianças brincando 1960)
sábado, 18 de setembro de 2021
UM GATO DE RUA GANHA UM LAR E UM NOME, de Hiro Arikawa
quarta-feira, 15 de setembro de 2021
DER TOTENTANZ / A DANÇA MACABRA, de Goethe (Johann Wolfgang Goethe)
Der Türmer, der schaut zu Mitten der Nacht
Hinab auf die Gräber in Lage;
Der Mond, der hat alles ins Helle gebracht,
Der Kirchhof, er liegt wie am Tage.
Da regt sich ein Grab und ein anderes dann:
Sie kommen hervor, ein Weib da, ein Mann
In weißen und schleppenden Hemden.
Das reckt nun, es will sich ergötzen sogleich,
Die Knöchel zur Runde, zum Kranze,
So arm und so jung und so alt und so reich;
Doch hindern die Schleppen am Tanze:
Und weil hier die Scham nun nicht weiter gebeut,
So schütteln sich alle, da liegen zerstreut
Die Hemdelein über den Hügeln.
Nun hebt sich der Schenkel, nun wackelt das Bein,
Gebärden da gibt es vertrackte;
dann klippert's und klappert's mitunter hinein,
als schlüg' man die Hölzlein zum Takte.
Das kommt nun dem Türmer so lächerlich vor;
da raunt ihm der Schalk, der Versucher, ins Ohr:
Geh! hole dir einen der Laken!
Getan, wie gedacht! und er flüchtet sich schnell
nun hinter geheiligte Türen.
Der Mond und noch immer er scheinet so hell
zum Tanz, den sie schauderlich führen.
Doch endlich verlieret sich dieser und der,
schleicht eins nach dem andern gekleidet einher,
und husch! ist es unter dem Rasen.
Nur Einer, der trippelt und stolpert zuletzt
und tappet und grapst nach den Grüften;
doch hat kein Geselle so schwer ihn verletzt;
er wittert das Tuch in den Lüften.
Er rüttelt die Turmtür, sie schlägt ihn zurück,
geziert und gesegnet, dem Türmer zum Glück,
sie blinkt von metallenen Kreuzen.
Das Hemd muß er haben, da rastet er nicht,
da gilt auch kein langes Besinnen,
den gotischen Zierrat ergreift nun der Wicht
und klettert von Zinne zu Zinnen.
Nun ist's um den Armen, den Türmer, getan,
es ruckt sich von Schnörkel zu Schnörkel hinan,
langbeinigen Spinnen vergleichbar.
Der Türmer erbleicht, der Türmer erbebt,
Gern gäb' er ihn wieder, den Laken.
Da häckelt jetzt hat er am längsten gelebt
Den Zipfel ein eiserner Zacken.
Schon trübet der Mond sich verschwindenden Scheins,
Die Glocke, sie donnert ein mächtiges Eins,
Und unten zerschellt das Gerippe.
Tradução de Raphael Soares:
O guarda que olha, no meio da noite,
Lá para baixo, para as covas frias;
A lua, com sua luz, qual um açoite,
Tudo ilumina como dia.
As covas, uma a uma, a se mover,
Sai um homem após uma mulher
Em longas e brancas camisas.
Esticam-se todos duma vez só, os
Ossos formam a roda, em festança;
O pobre, o velho, o rico, e até os novos;
Todos são o mesmo na dança.
E agora, por não ter nenhum pudor
Se agitam todos, e começam a por
As camisas sobre a colina.
Agora ergue a coxa e a perna levanta,
São mui difíceis estes passos;
Um coro de cliques e claques canta,
E um marca com um pau os compassos.
Tudo parece, ao guarda, engraçado,
E à orelha diz o tentador desgraçado:
Vá! vá para lá vestindo um trapo.
Dito e feito, foge ele como um vento
Para trás da sacrossanta porta.
A lua ainda ilumina o relento,
E a dança assustadora mostra.
No final, quando tudo está acabado
Se arrastam, voltam a ficar trajados,
E vupt! e voltam para a grama.
Resta apenas um, trôpego, no fim,
Está a tatear as tumbas;
Não tem companheiro ferido assim,
E no ar fareja a roupa imunda.
Sacode a porta da torre e é empurrado,
O guarda alegre fica, abençoado,
Brilham as cruzes de metal.
De sua camisa ele precisa agora,
Sem nenhum longo pensamento,
Da gótica ornamentação se apossa
E ameias sobe num momento.
Agora o pobre guarda está acabado,
Cada floreio escala, aparentado
Uma aranha de patas longas.
O guarda empalidece, o guarda treme,
Queria devolver-lhe os panos.
Muitos anos de vida ele já teve
A ponta de um férreo cano.
E então a lua some com seu brilho,
Golpeia em trovejante golpe o sino
E estraçalha o esqueleto.
(Ilustração: Hieronymus Hess - the ossuary from Basel's danse of death)