domingo, 24 de novembro de 2019

CONSELHO DE AMIGO / CONSEIL AMICAL, de Olegário Mariano




Cigarra! Levo a ouvir-te o dia inteiro,

Gosto da tua frívola cantiga,

Mas vou dar-te um conselho, rapariga,

Trata de abastecer o teu celeiro!



Trabalha, segue o exemplo da formiga;

Aí vem o inverno, a chuva, o nevoeiro,

E tu, não tendo um pouso hospitaleiro,

Pedirás... e é bem triste ser mendiga!



E ela ouvindo os conselhos que eu lhe dava,

(Quem dá conselhos sempre se consome...)

Continuava cantando... continuava...



Parece que no canto ela dizia:

— Se eu deixar de cantar morro de fome...

Que a cantiga é o meu pão de cada dia.



Tradução de Heitor P. Fróes:




Cigale, je t´entends le jour entier;

J´aime l´accente de ta chanson frivole...

Cependant, je t´assrue, sur parole,

Quíl vaudraiat mieux pourvoir à ton greneir!



Vois la fourmi, qui veille à son métier;

Pense au brouillard, pense à la bise folle...

Et toi, faute d´un gîte bénèvole,

Tu seras mendiante em ton quartier!



Sans régard au conseil qu´elle entendait

(Qui donne des conseils n´a pas de trève)

Elle chantait, elle chantait toujours...



Et dans son chant je crois qu´elle grondait:

— "Si je ne chant pas, alors je crève,

Car le chant est mon pain de chaque jour"!





(FRÓES, Heitor F. Meus poemas dos Outros. Traduções e versões. Bahia, 1952)



(Ilustração: Illustration de Grandville pour La Cigale et la Fourmi) 





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