sábado, 16 de junho de 2018

EU E O OUTONO, de Alceu Wamosi







Quando, a primeira vez, eu encontrei o outono,

num fim de tarde triste, em um parque fanado,

o céu resplandecia em ouro, como um trono.



Andava pelo espaço um silêncio encantado,

magnífico, oriental, mágico, deslumbrante,

como se fosse a voz calada do passado.



A velha fonte, outrora alva Ninfa cantante,

que um lírio de cristal perenemente erguia

para despetalar em música um instante,



tinha os lábios sem som, de mármore, esse dia.

Tombavam, como pranto, as folhas mortas. Era

um imenso soluço verde de agonia



o parque, na atitude exul de quem espera

um mistério qualquer... Errava em todo o ambiente

a saudade da derradeira primavera.



As violetas, na sombra, iam-se lentamente

esvaindo-se em perfume – ametistas de aroma

que vestiram de luto a alma viúva do poente.



Nessa divina tarde

o outono me cobriu todo de uma redoma...

E eu, desde aí, reflito o outono, eternamente,

como um espelho ideal que um sonho guarde.



(Em “Sonho de Estação Morta”, na Coroa de Sonho)



(Ilustração: Jean Béraud)




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