Quando, a primeira vez, eu encontrei o outono,
num fim de tarde triste, em um parque fanado,
o céu resplandecia em ouro, como um trono.
Andava pelo espaço um silêncio encantado,
magnífico, oriental, mágico, deslumbrante,
como se fosse a voz calada do passado.
A velha fonte, outrora alva Ninfa cantante,
que um lírio de cristal perenemente erguia
para despetalar em música um instante,
tinha os lábios sem som, de mármore, esse dia.
Tombavam, como pranto, as folhas mortas. Era
um imenso soluço verde de agonia
o parque, na atitude exul de quem espera
um mistério qualquer... Errava em todo o ambiente
a saudade da derradeira primavera.
As violetas, na sombra, iam-se lentamente
esvaindo-se em perfume – ametistas de aroma
que vestiram de luto a alma viúva do poente.
Nessa divina tarde
o outono me cobriu todo de uma redoma...
E eu, desde aí, reflito o outono, eternamente,
como um espelho ideal que um sonho guarde.
(Em “Sonho de Estação Morta”, na Coroa de Sonho)
(Ilustração: Jean Béraud)
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