domingo, 20 de setembro de 2015

ГАМЛЕТ / HAMLET, de Boris Pasternak





Гул затих. Я вышел на подмостки.
Прислонясь к дверному косяку,
Я ловлю в далеком отголоске,
Что случится на моем веку.


На меня наставлен сумрак ночи
Тысячью биноклей на оси.
Если только можно, Aвва Oтче,
Чашу эту мимо пронеси.


Я люблю Твой замысел упрямый
И играть согласен эту роль.
Но сейчас идет другая драма,
И на этот раз меня уволь.


Но продуман распорядок действий,
И неотвратим конец пути.
Я один, все тонет в фарисействе.
Жизнь прожить – не поле перейти.



Translated into English by Lydia Pasternak Slater:



The murmurs ebb; onto the stage I enter.
I am trying, standing in the door,
To discover in the distant echoes
What the coming years may hold in store.


The nocturnal darkness with a thousand
Binoculars is focused onto me.
Take away this cup, O Abba, Father,
Everything is possible to thee.


I am fond of this thy stubborn project,
And to play my part I am content.
But another drama is in progress,
And, this once, O let me be exempt.


But the plan of action is determined,
And the end irrevocably sealed.
I am alone; all round me drowns in falsehood:
Life is not a walk across a field.



Tradução de J. A. Rodrigues:


O murmúrio reflui. Adentro o palco.
Apoiado no batente da porta,
Capto num eco distante,
O que há de acontecer em minha vida.


A noite escura lança sobre mim
Milhares de binóculos à queima-roupa.
Se possível, Abba Pai,
Afasta de mim esse cálice.


Encanta-me teu obstinado desígnio
E aceito representar esse papel.
Porém agora um outro drama está em curso,
E desta vez rogo-te que me dispenses.


Contudo a sequência de atos já está fixada,
E o fim do caminho é inelutável.
Sozinho estou, tudo submerge em hipocrisia.
A vida é para viver – não como um passeio no campo.



Tradução de Augusto de Campos:


O murmúrio cessou. Subo ao tablado.
Apoiado ao umbral da porta,
Procuro distinguir no eco apagado
Os desígnios da minha sorte.


A penumbra da noite me devassa
Por trás de mil binóculos iguais.
Se for possível, Aba, meu pai,
Afasta de mim essa taça.


Amo a Tua obstinada trama
e aceito o papel que me foi dado.
Mas agora representam outro drama.
Ao menos dessa vez, deixa-me de lado.


Mas a ordem das cenas foi prevista
E a estrada chega fatalmente ao fim.
Estou só. Tudo afunda em farisaísmo.
Viver não é passear por um jardim.



Tradução de Marco Lucchesi:



Cessaram os rumores. Entro em cena.

Apoio-me na porta e assim procuro

colher, nos ecos pálidos, o tema

dos fatos que no século me esperam.



Imerso na profunda escuridão,

sou alvo de binóculos distantes.

Se for possível, Pai, retira então

de mim essa bebida, esse tormento.



Eu amo tua história contumaz

e vou representar todo esse drama.

Mas, se outra peça leva-se em cartaz,

deixa-me já de fora dessa trama.



Mas a regra dos atos não se altera

e faz-se irremediável o fim da estrada.

A solidão. Os fariseus na Terra.

Viver é mais que atravessar um prado.{*}





{*} Trata-se de um provérbio russo.



(In: Doutor Jivago - título original em russo: Doktor Zivago; tradução de Zoia Prestes; prefácio e tradução de poemas: Marco Lucchesi)




(Ilustração: Felix Nussbaum - jew at the window)



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